domingo, 13 de dezembro de 2009

vômito de pensamentos

"E se nao vier, para seu próprio bem, guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segedo".

Caio F.
quem mais poderia ser? Li essa frase agora num texto lindo dele. E já que estamos falando no Caio:

Ontem foi uma daquelas noites que vão acontecendo e tu nem sente. Se deixa levar, assim, distraído. E não se preocupa com nada, nem ninguém. Muito menos com os olhares naja que te lançam. Aqueles de desaprovação, fingindo que não se importam, mas se remoendo de raiva. De amargura. De saudades. E eu sei, que se remói de saudades. E que dói. Por doer, lança os olhares, pra se defender. Como se se eu olhasse por mundo tempo, fosse me petrificar. Não petrifica. Sou muito doce e muito forte e muito cheia de mim e de amor pra me transformar em pedra. Guarda o concreto para si, não para mim.

Mas o que eu vim aqui escrever, na verdade, é que vi uma menina com uma tatuagem que eu quero fazer: uma borboleta azul. "É tudo natural, basta não teres medos excessivos. Trata-se apenas de preservar o azul das tuas asas". Era nova, recém feita. Comentei que queria tatuar uma borboleta azul, também. Ela me disse, meio cheio de si, que não era só uma borboleta azul, era de um texto do Caio, "uma história para borboletas". Ou "de borboletas". Não lembro do nome do texto exato (joguem no google e leiam - é lindo). Me falou assim, meio nariz empinado, como se dissesse que os meus futuros traços na pelepodiam ser apenas uma borboleta - mas a dela não era. A dela era algo a mais. E então eu disse: eu sei, a minha também vai ser da mesma coisa. E citei aquela parte ali em cima em itálico. Ela ficou meio surpresa, não me conhecia. E éum puco espantoso quando alguém - ainda mais desconhecido - compartilha um mesmo desejo, querer que tu. Ainda mais tatuagem que é algo tão pessoal. Realmente, me encanta como algo que faça tanto sentido pra ti, também faça pra outra pessoa. É um compartilhamento coletivo de sentimentos, de sensações, de vontades. E um compartilhamento coletivo de sentimentos, hoje em dia, ainda mais com uma pessoa estranha, é raro. Não que as pessoas não compartilhem mais nada, mas eu acho que o sentimento que faz ser diferente. Consigo contar nos dedos as pessoas que realmente sei que se permitem sentir além. Mas expliquei que a minha tatuagem ia ter "que seja doce" sete vezes em volta no baixo e a borboleta vai ser atrás do braço, bem diferente da dela. De alguma maneira, tentei dizer que a dela continuaria sendo única. E sempre é único o que significa pra ti, embora role esse compartilhamento coletivo. O que significa muito pra mim, pode significar bastante pra ti também. Mas nunca vai ser do mesmo jeito. Então, querendo ou não, é sempre unique. E me dá muita esperança no mundo ver que ainda tem pessoas que acreditam em coisas bonitas como essa. Seria bonito se houvesse mais gente assim. Mas as coisas bonitas já não acontecem mais.

Texto porco. Mas é isso aí mesmo. Bem vômitos de pensamentos. Ou sentimentos. Pode escolher.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De todas as letras, a última. De todas as cores, retalhos.

"Vim pra casa humilde. Depois um amigo me chamou pra ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar da dele faria como que eu esquecesse de mim. E fez. Quando gemeu 'dói tanto', contei da moça vadia sozinha chorando, bebendo e fumando (como num bolero). E quando ele perguntou: "por quê?, compreendi mais ainda. Falei: 'Porque é daí que nascem as canções'. E senti um amor imenso. Por tudo, sem medir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?"
Caio F. Abreu

A tristeza, na verdade, não veio do não-ter. Veio da descrença, do medo da amargura, da desilução daquela possibilidade que falei ontem. Chorei muito por dizer que já não acreditava mais em nada, que eu tinha cansado, que eu não queria mais saber, que eu ia mesmo fugir, pegar o primeiro ônibus e avião e sumir. E mandar todo mundo se foder nessas tentativas inábeis, frágeis e covardes. Que todas essas crenças e descrenças tavam quebrando comigo e eu já nem sabia mais quem eu era. "Mas quem é que não queria se encontrar?". Me irritei, me entristeci, gritei, disse "não encosta em mim!", como se não me tocando nos braços pudesse fazer com que não tocasse meu coração, também. Como se dissesse "sai daqui, eu fui burra, estúpida, idiota de ter te deixado entrar, sai daqui sai daqui sai daqui!". Bem infantil, bem boba, bem natural e bem humana. Porque, enfim, todo mundo tem direito. E o meu direito era esse: não aceitar, gritar, chorar. E, se tivesse algo pra quebrar, quebrava tudo. Feito como fiquei por dentro. Mas mas mas daí me veio umas vozes doces me dizer que não, que eu não posso desistir, que eu não vou, que faz parte de mim ser risonha, alegre, esperançosa, doce doce doce, que são pessoas como eu que movem o mundo e fazem ele ser melhr. Eu deitei no ombro-amigo dos meus amigos que conheço desde antes da Revolução Francesa e chorei chorei chorei. Dai eu dancei. Dancei leve, deixei-me levar. Porque sabe, aquele momento é único e não era o momento de chorar. Aquele era o momento de dançar, leve. E sorrir, meio boba, de enfim, me fazerem acreditar de novo. Tá sempre aí, sabe. É isso que é amor. É ISSO. E a gente ainda se engana achando que tem que procurar em outro lugar. Voltei pra casa com o dia amanhecendo. E sempre rola uma esperança de ver o sol nascendo, vai dizer?

domingo, 6 de dezembro de 2009

Desamores também acabam

Acho, sim, que um dia esses desamores vão acabar. E apesar do gosto do fracasso, de se falhar novamente, fica algo bom aqui. Sempre se mantem algo bom, bonito, belo, do bem aqui. Todos os b's. Diria aquele famoso "B de _ _ _". Forca. Bem enforcada, sufocada, assassinada. Morta de amor. Mas não cabe e nem considero mais. Passou, mas é difícil pensar em outra coisa quando falo em desamor. Hoje, é outro. Amanhã, mais um. Mas hão de acabar, enfim. Em algum momento, a gente se aquieta. Se aquieta ou desiste. Endurece, talvez. Não sei se amadurecer é endurecer, parar de acreditar. Às vezes, acredito que sim. Mas enfim, a gente se desliga. De tudo. Pra poder pensar - ou não pensar - pra poder fugir. Pra fechar os olhos e só enxergar o que quer se ver. Pra, em poucos momentos, horas, minutos, criar o mundo de novo. Criar o mundo pra ti. Do jeito que tu quiser. E, sozinho, entre quarto paredes, com o mundo parado - enquanto a terra gira lá fora - faz-se o que quiser, torna-se quem quiser, inventa-se e acredita-se no que quiser. E nos sentimos bem.

Hoje, me desliguei. Nada de telefones, de msns, de chats, de ligações de madrugadas, de vontades de convidar para fazer algo. Hoje, sou eu. Só eu nesse quarto cheio de roupas, frases e refrões que me vestem de mim mesma e me fazem sempre estar bem. E, se não fazem eu sempre estar bem - porque às vezes até não-estar-bem é bom - , me fazem ser eu. E nesse fracasso não tão fracassado assim, sinto um certo gosto em ser eu mesma, quietinha, sumida. Sozinha. A solidão doce, não medonha. E não dura por muito tempo: amanhã tem mais sol e eu vou tá pela rua, me distraindo com todas essas almas vivas que enchem meus dias de cores, que não há cobranças, nem nada além daquilo que se dá. Com as minhas pessoas que são minhas do jeito que são, sem querer que seja algo a mais. Não sei porque não conseguimos ser sempre assim. Porque, diabos, temos que possuir alguém. Bobagem, bobagem. Acho mesmo bobagem. Mas não consigo fugir disso, desse imposto pela sociedade-totalmente-controlada-estipulada-manipulada-regrada. Bem boizinho mesmo. Mas, como ia dizendo, hoje, nessa noite de verão, de sons tranquilos, de leituras e escritos, sou eu. Só eu. E tinha até me esquecido de como gosto de ser só eu de vezenquando.

Mas como eu ia dizendo, acho que esses desamores vão acabar. Não que eu vá encontrar o amor-da-minha-vida-meu-deus-como-tu-sempre-foi-tudo-que-eu-quis. Cada vez mais acredito menos nisso. Penso que vou acabar feito o Caio ou a Clarice, meus ídolos, tão sentimentais, cheios de amores, complicados, sarcásticos, às vezes até meio naja, e sozinhos. Amores irreais, intocáveis e platônicos. Porque, enfim, os maiores amores sempre são os platônicos, os impossíveis. Se não dói, não é amor. É triste triste triste, wertheriano pra caralho, mas é verdade. Amores à distância, amores impossíveis, ele-gosta-de-mim-mas-tá-namorando, ela-gosta-dele-mas-não-pode-agora, eu-gosto-dele-e-ele-gosta-daquela-vaca, ele-gosta-de-mim-mas-eu-gosto-do-seu-melhor-amigo. A arte de complicar, de querer o intocável. Sabe-se bem que procuramos o palpável, vermelho, vivo e intenso. Mas esquecemos que depois vira rotineiro, desbotado, semi-morto e sem graça. E nunca se sabe dizer o que houve de errado, quem foi o culpado. E, na maioria das vezes, nem há um culpado. Mania absurda de ter sempre um vilão e um mocinho na história. Somos os dois, o tempo todo, a cada segundo: o maravilhoso herói de coração enorme que salvará o mundo e o vilão macabro angustiado e vingador que quer que todos se explodam. Máscaras de identidade a cada segundo, cê sabe. Sim, até eu, que pago de toda doce, coração grande, tenho vontade de mandar as pessoas a merda e largo umas estupidez bizarras de vez em quando. Sou humana. E é realmente é muito fácil justificar atitudes dizendo isso: sou humana. Mas sou e tento nem julgar ninguém mais porque, enfim, você também é. E você também faz merda. Não venha me dizer que não: no fundo, cê sabe bem: você também faz merda - e das grandes. E tem amores, impossíveis. E vai ter desamores, logo, logo. Que vão acabar, um dia.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

vejo em ti meu roteiro de agonia.

Ensolarado, silhueta, meia luz, solidão, sobreviver, loucura, paixão. Depois de tanto tempo longe, distante, quase esquecido, essas foram as palavras que ele usou nos dez minutos que passamos juntos naquela sala cheia de escritos, bagunças, sujeiras, pessoas passando, falando, jogando, fumando e bebendo. Nada fácil, nada simples, nada de "Oi, como tu tá? Tudo bem? Até mais ver. "Não fazia parte dele ser assim - e eu agradeço por isso. Apesar de nessas palavras profundas, era isso que nos dizíamos: oi, como está, até mais ver. Do nosso jeito.Consigo me imaginar, daqui a alguns anos, relembrando daquela nossa uma semana-de-todos-os-sentimentos-de-um-relacionamento e ainda escrevendo algumas palavras doces e fortes - que nem essas que ele havia utilizado - contando dele para alguém. Intenso. Essa é a palavra que o definiria, se tivesse que escolher apenas uma. Contou-me que buscava alegrias, novos ares, mudanças. Quando me pediu para que adivinhar para onde desjava ir, brinquei "Sri lanka, quem sabe?". Soltou uma risada gostosa, sincera e disse: "Não, Rio de Janeiro". Respondi instantaneamente, num impulso: "Vejo em ti meu roteiro de agonia". Saiu de minha boca quase sem pensar e me senti amarga por desejar, quase amaldiçoar, que a minha agonia se repetisse em alguém - ainda mais nele. Depois pensei melhor e vi que o meu roteiro não foi somente agonia. Foi muito amor, também. E pra ele desejo isso, sim: muito amor.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tem dias, como hoje, que eu só queria parar. Parar de pensar, de ver, de sentir. Não parar no estilo "morrer", nada disso. Só parar, por um temnpo. Me recolher. Juntar todas as partes e pedacinhos em mim que vão se afrouxando e me recolher pra colar tudo de novo, me fazer inteira. Não que eu esteja quebrada, despedaçada, largada pelos cantos. Eu só tou frouxa. Inteira. Vaso quebrado colado meio torto, sabe? É, eu sei: eu sou peça com defeito. Daquelas que não dá pra retornar nem consertar, tem que usar assim mesmo. Do jeito que der. Acho que é isso que tá me angustiando: eu lidando com tudo do "jeito que der". Não ter nenhuma certeza. Nenhum "bah, é isso aí. é isso AÍ", como já tive antes. É tudo um "pode ser" gigante. Um talvez. Um ponto de interrogação.

Daí acontece umas coisas. Pequenas coisas. Essas coisas. E eu me irrit e me chateio e eu desisto e eu choro e eu deschoro e eu rio de amargura e eu acho que eu sou a culpada eterna culpada por não saber controlar o que sinto. Como se eu tivesse cometido um crime por sentir além do que se deve, além do que as pessoas normalmente sentem. Como se tudo que eu vivo e acredito fosse mera ilusão construída pra me acolher e destruída por mim mesma - pois os outros não tem culpa de viver de maneiras diferentes. De sentir e ver e ler e se portar no mundo de jeitos diferentes que os meus. De jeito que não são tortos e não envolvem doçuras diárias e cartas coloridas e abraços sem fim e finais de tarde deitados na grama adivinhando o formato das nuvens, tão clichê e mas tão obsoleto hoje em dia. Esses gestos antigos e amelie poulain e brilho eterno e até wertherianos, quem sabe. Adoro um texto do Nenê Altro que ele diz que nos emocionamos com todos esses filmes livros e referências tão humanos, mas que no nosso dia-a-dia passamos por pessoas que vemos todos os dias e não somos capazes nem de dar "bom dia". Essa dicotomia me angustia e me corrói: não sei como pode ser assim, não entendo. Não é difícil ser doce, não é difícil sorrir, não é difícil ser amável. É só se deixar levar, se despir da capa-de-proteção que a gente veste o tempo todo. "se deixar levar por suas emoções" é desaprovado. em vez disso somos criados para estarmos sempre alerta aos erros que os nossos corações podem nos levar. em vez de sermos encorajados a ter coragem para enfrentarmos as consequências dos riscos assumidos na busca dos desejos dos nossos corações, somos aconselhados a não correr risco". Eu sempre corri tantos riscos. Riscos e mais riscos, subidas, descidas, tapas na cara e paredes sem fim, poço sem fundo tão fundo fundo fundo, levantar-se e começar de novo. Acabo por odiar por me sentir culpada de ser eu mesma, de ser torta, mas tão sincera, não só com os outros, mas comigo comigo comigo mesma. "Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê". Sou exatamente o que se vê, o que eu falo o que eu sinto. E a culpa, essa ao qual sou condenada, é por achar criar um mundo de fantasias. Um mundo de fantasia que existe - e muito - dentro de mim. Por tentar tocar o intocável e por torcer que, um dia, quem sabe UM DIA, chegue até mim. Meio dama da noite num final de noite, numa solidão medonha e ainda há espera dele que vai entrar naquele bar e me levar embora de toda aquela gente vestido de preto e cabelo arrepiadinho. Numa espera de algo que me falça ver que eu não estou tão errada assim, que é tudo natural e que as coisas podem ser tecidas conhecidas aprendidas. Eu tenho tanto disso: de querer aprender sobre o outro. Aquela coisa do pequeno príncipe de querer saber qual sua cor favorita, que livros você mais gosta, o que te faz sorrir, será que gosta de caçar borboletas, que lugar você gostaria de estar, qual é seu sonho, o que realmente importa, pra onde você quer ir. Essas perguntas tão bobas e banais que definem quem tu é. Sem precisar de números e grandes pretensões. De só querer abraços e carinhos e ninguém ter medo que aquilo são contratos. São só abraços e carinhos reais. Não queria toda esse confinamento sentimental, essa coisa de não poder dizer "tou com saudades" por temer o que o outro pode achar. Simplesmente, sente-se saudades. Simplesmente, sente-se carinho. Simplesmente, acontece. E não dura pra sempre, dura o momento que tiver que durar. Só queria poder ser assim sem o medo, sem a angústia. Só queria poder ser leve leve leve o tempo todo. O tempo todo. Como eu sou contigo.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

09 de fevereiro de 2008

Encontrei esse texto meu no meu fotolog antigo. Eu escrevia pra dedéu, umas coisas até meio absurdas. Não, talvez não absurdas. Talvez só diferentes de agora, mesmo. Mas ainda eu. Sendo ainda eu, acho válido que esteja postado aqui, como uma parte de mim. Uma parte de mim desatualizada, mas uma parte de mim. Segue a foto que o texto se refere, também.





Essa nunca foi minha preferida, em nenhum dos sentidos. Não me lembro que filme era esse que tava passando na tevê. Sei que tinha recém acordado - e tava bem frio. Lembro de uma tarde, tipo essa, que passou um filme com o jack nicholson e ele comia três mulheres - irmãs eu acho - pra fazer um filho-demônio. Ou ele era o demônio. Algo do tipo. É, nem disso eu me lembro direito, na verdade. E, embora o filme seja a única coisa que eu lembro daquela tarde, sei que gostei. Dos dois. Acho que tava sozinha. Tipo hoje. É, sozinha tipo hoje.

Complicado mesmo é não saber, não entender. Clarice Lipector diz que é o mais humano - o não-saber. Diz que sempre que se pensa que comprendeu alguma coisa é porque se compreendeu errado. Não existe o compreender. Não sei se concordo. Em parte, um pouco. Talvez por eu nunca entender nada mesmo. "Não me entendo e ajo como se me entendesse". Condição humana absurda. E cada vez nos acho mais prepotentes, mais ridículos e pequenos. Vontade de mandar todos os pré-estabelecidos pro inferno. Longe de querer ser o nenê altro. Longe. É aquela coisa de "tá na hora de dar um rumo nessa vida". É, tá na hora. Feito meu pai que disse que ele não podia decidir por mim as coisas. Verdade. Mas não importa a decisão que tomar, ela vai ser sempre questionada. Vai ver que o problema sou eu mesmo. E não é aquela coisa eu-sou-a-vítima e tal. Longe de mim. Tou distante demais - de tudo - pra me fazer de vítima. Digo que o problema deve ser eu por não me ver "grande". E, por mais imaturo que seja, não quero me ver grande. Não consigo colocar no lugar as coisas. E as desculpas é o que mais acho. Desculpa é o que não falta nunca. É aquela vontade, sabe. Aquela vontade inexplicável de querer ter tudo sem saber o que o tudo é. De tá disposto a batalhar pelo que tu quer, sem saber o que tu vai encarar. Sem nem querer conhecer, de só ir. E ir sempre "dando um jeito". É como tem sido. Há bastante tempo. A pior parte é nem saber o que se acha disso. Me perdi por aí. E quero me encontrar, sozinha.

Talvez eu seja mesmo cheia dos preconceitos e julgamentos. Não é por mal. Tipo forma de defesa, acho. E, por mais que eu acha que ele faça que entende, não entende. Não tem como. Fico quieta, é o melhor. Discutir não vai chegar a nada e eu não sou articulada o suficiente pra me fazer entender. E não é por mal, nunca é.

Acho injusto. Meio que me desiludi, talvez. Aquela coisa de acreditar no bem do ser humano, sabe. A real é que a natureza do ser humano é má. E eu continuo insistindo que não. Que nem eu disse, acho que a minha fé é tão grande nisso porque eu sou assim. Mas é aquela coisa: ser bom é sinônimo de ser fraco. E aqui, os fracos não têm vez. Que merda de filme, diga-se de passagem. Devo ter perdido alguma parte. Ou sou burra mesmo e não nasci pra entender esse tipo de história absurda. Tipo de filme feito sem sentido só pra aparecer. Dalhe. E todo mundo saindo da sala do cinema fingndo que entendeu tudo. Inclusive a mulher de 30 anos da fileira da frente que tinha ido ver o filme sozinha. Entendu tudinho, aham. Eu devo ter perdido alguma parte, mesmo. No mesmo clima, post sem sentidoaeaeae.

Talvez tudo volte ao normal hoje. Por mais que pareça que tá tudo extremamente nos trilhos, o normal mesmo é aquela coisa toda que foi ano passado. O meu normal era aquilo. E ser distante era tão bom. Reaproximação. De tudo aquilo que eu achei que tinha deixado pra trás. Em um sentido que ninguém que ler isso aqui vai entender. Porque o passado de verdade tá lá enterrado. Bem enterrado. E, como toda dor, depois de algum tempo, amezina. A gente leva como pode. Como pode.

domingo, 15 de novembro de 2009

A LINE allows progress. A circle does not.

A LINE
Pra ela que tá sempre aqui e me faz progredir e acreditar um pouco mais em mim, nos outros, no mundo e na vida.


te quero. nos começos de manhãs rosadas alaranjadas amareladas, nos meus finais de tarde com cheiro de alecrim e hortelã, na noite vazia que contigo é preenchida de risadas,confissões, verdades e amores. te quero risonha frenetica completa. mas te acompanho também tristonha pendente perdida. te imagino com os braços abertos a me esperar em qualquer esquina, qualquer porto. mas és a esquina da minha vida, o meu porto seguro quando nada mais faz sentido nesse mundo já tão sufocante e maldoso. vejo em ti uma saída, um final. ou uma entrada, um começo. uma esperança que sempre haverá quando tudo escurecer. alguém que me abraçará enquanto choro desamparada e soluço por tudo, por nada, por qualquer coisa e me dirá com a voz suave "vai passar, tu sabes que vai. e amanhã tem sol". cada vez mais tenho certeza que o sol só existe porque pessoas como tu fazem ele surgir a cada dia, depois de cada noite fria. "But the sun's been quite kind while I wrote this song, it's for people like you that keep it turned on". TU keep me turn on. obrigada por todos os dias, todas as horas, por sempre. até nesses momentos distantes que sei que tu estás aqui. aqui dentro do lado esquerdo do peito e em todas as minhas células e átomos, vibrando sorrindo pulsando. eu nem sei o que eu fiz pra merecer tanto assim, mas, sabe, nem questiono muito. tenho medo que não chegue em resposta alguma e o universo veja que fez uma burrada e te tire de mim. e, sinceramente, não sei se conseguiria viver sem tu por perto, sem tu aqui, sem tu.

é claro que te encontro, é óbvio que sim. que achas na quarta? bem no meio, onde a correria já tá quase nos sufocando, nos encontramos e nos enchemos de força de novo pra encarar o resto dos dias da semana que sempre trazem mais indas-e-vindas infindáveis e sempre saudades de ti. e daí, no fim desta próxima semanin que já começou, podemos fazer uma janta. isso mesmo, digo cozinhar. eu e tu, tu e eu. e, se quiseres, mais alguma alma especial que sabemos ter encontrado nesse deserto de almas também desertas. onde? em algum lugar, em qualquer lugar. e de todos os ingredientes o que a gente sabe que não vai faltar é este aqui ó: AMOR AMOR AMOR. em excesso. e dúvido que alguma de nós reclame que foi temperado com amor demais. não é?

me chama, me manda um beijo, um abraço, um carinho, um chamego.
te mando aqui ó, vários. enormes e lançados direto pro fundo do teu coração.

sábado, 31 de outubro de 2009

QUE SEJA DOCE X 7

Ando escrevendo de qualquer jeito, com uma preguiça danada. Não reviso os textos, não tenho tido paciência, não ando produzindo direito. Esse último ali debaixo veio numa onda de inspiração momentânea duma conversa com uma grande amiga minha, dessas relíquias que a gente coleciona e guarda nos lugares mais bonitos dentro da gente.

Essa falta de capacidade de correção, de atenção deve ser porque a minha cabeça anda a mil. Me atropelo nas palavras, tentando colocar tudo que tenho pensado no papel. "Trânsito de palavras", Yelipetecos disse. Acredito bastante.

Mudei muito a minha maneira de enxergar o mundo no último ano. E eu sei que é clichê falar dos anos e do tempo, mas nossa, esse último ano passou muito rápido. E cada segundo foi de aprendizado. Tá sendo. Cada momento serve pra gente coletar, guardar aqui e entender, não entender, se jogar, se perder. Me livrei de muitos pre-conceitos e adotei novas filosofias de vida. Umas que envolvam mais amor, mais compreensão, mais empatia. Mais humanas. Não o humano que a sociedade obriga a gente ser, mas o humano que a gente deveria ser em nível espirítual. Próximo de um tudo maior. PARTE de um tudo maior. Estando incluindo no universo e sendo forma dele se manifesta - e estando ciente disso.

Pensando agora, chamaria de evolução. Pura. Tem muito mais pra acontecer, tem muito mais de mim que eu tenho que encontrar por aí, perdido nesse mundão a fora. Tem tanta coisa, tanta coisa, que a gente fica até perdido. Eu sei que fico. Mas aos poucos, com os passinhos pequenos, a gente vai se encontrando. Se encontrando e criando asas. Cada vez maiores pra nos fazerem voar mais alto. Não sei se asas maiores nos fazem voar mais alto, mas algo faz. E é esse algo que eu tou atrás.

LIBERTA

Nada tu não vai fazer. Tu tem que fazer ALGO. Qualquer coisa. Só não deixa esse momento passar. Não deixa esse sentimento passar. Não te reprime só porque te ensinaram a fazer isso. Não te reprime porque te obrigaram a acreditar que isso é o certo. Segue o teu caminho, cada um tem o seu. E não dá bola se quiser opinar sobre o teu, apontar e falar é muito fácil. Difícil é caminhar em direção ao desconhecido. Difícil é caminhar em direção ao que te dá medo, insegurança. Difícil é se demonstrar frágil, inocênte, vunerável. Então, te liberta. Seja vulnerável. Faça alguma coisa. Vai lá, diz. Berra, canta. Vai lá, telefona. Dá um toque. Manda uma mensagem, sei lá. Manda uma carta, um depoimento, um sinal de fumaça. Faz qualquer coisa que te ajude a te expressar. Só não deixa esse momento passar. Seguraí. Não, não tem nada disso de ser tonta, pequena. Que tonta o que. É ser livre. É ser aberta. É ser bonita. Quer coisa mais bonita do que se expressar sem medo? Ou melhor: quer coisa mais bonita do que se expressar, mesmo tendo medo? Quer coisa mais digna, mais corajosa, mais cheia de graça? Não tem, não. Deixe que digam que tu está sendo tonta. No fundo eu sei - e tu também sabe - que tu tá sendo linda, maravilhosa, cheia de cor. E daí que não é recíproco? DESDE QUANDO algo precisa ser recíproco pra ser verdadeiro? Deixa que os medos devorem os outros, a ti, te mantem em paz. Tranquila. Leve. Por ter dito tudo, por ter feito tudo. São essas fragilidades, essas doçuras que nos fazem ser especiais. Ser os poucos e bons, como diz a noção-de-tudo. Faz o que te fizer te sentir melhor, o que fizer te sentir viva. Só tu sabe o que te faz sentir viva, então esquece o que os outros vão dizer, vão apontar, vão julgar. Esquece as capas de proteção que colocam em cima de ti, a muralha que criaram pra que tu não sofresse. Sofre. Vai lá, sofre. Descobre por ti mesmo. Ou sorri, sorri muito, sorri mil vezes, ri até não poder mais, até a barriga doer. Aceite as consequencias do que acha que te faz melhor e vai lá, dá a tapa a cara. Seguro tua mão, é claro. Te apoio sempre, sem dúvida. Mas faz por ti. E não deixa nada, nem ninguém, te prender. Tira o par de asas da bolsa e se joga, voa. Descobre até onde tu pode ir. Tu tem que aprender por ti mesmo, ninguém pode fazer por ti. E ninguém pode julgar. A gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros. Digo, redigo, tridigo, mildigo. Sempre que tu for fazer algo doce, intenso e de verdade, eu vou te apoiar. Foda-se o resultado. O que importa é a intenção - e a intenção é verdadeira, linda e cheia de cores. E se vier as sombras, vou estar contigo pra gente pegar todas as tintas, lápis e canetinhas pra colorir e desenhar em todos os papéis, paredes, móveis e, principalmente, nossas almas e corações.

(Não tenho dúvidas que isso se chama amor.)

domingo, 18 de outubro de 2009

Inacabado


Não sei como acabar porque não sei como termina.
Como muito da minha vida, esse é inacabado.

Foi uma dessas noites de insônia. Não que elas fossem frequentes, não eram. Normalmente, deitava nos lençóis macios, lia meia página de algum livro da cabeceira e logo dormia para suas - no mínimo - dez horas de sono. Hoje, não. Hoje deitou, leu algumas frases que não fixavam na mente, releu mais algumas palavras, desistiu. Apagou a luz, contou: carneirinhos, histórias, contos de fadas, sonhos. Não conseguiu. Foi até a cozinha: nada na geladeira além daquela massa com requeijão de sempre. Era só o que sabia cozinhar: massa ou ovo. Nada de doce. Nada de muito requintado. Nada que fizesse perder mais tempo na cozinha do que pensando no resto do mundo. Nada que a prendesse por muito tempo. Tinha isso: não gostava de ser presa. E, quando via, possuía asas que a levavam por todos os lugares. Hoje não. Hoje tinha uma corrente com quilos preso nos pés, segurando-na ali. Na cozinha, com a massa. O que se faz? Esquenta. No fogão. O microondas havia estragado há meses e ainda não tinha levado para consertar. Não sabia nem se era por falta de dinheiro ou por falta de tempo. Não que faltasse tempo no seu dia, gastava bastante ele fazendo coisas pequenas que poderiam ser dispensadas, mas que faziam parte da sua rotina. Só faltava tempo pra isso: pra telefonar pro Seu Carlos buscar o microondas e levar pra fazer um orçamento. "E", pensou, "mesmo se fosse barato o orçamento, duvido que eu fosse buscar essa tralha lá". Mais fácil comprar um novo. Mas não possuía dinheiro suficiente pra comprar um novo e, se possuísse, gastaria com outra coisa que lhe fizesse mais feliz do que um microondas. Afinal, tanta coisa pode te fazer mais feliz que um microondas, não é? Colocou o fogão no fogo baixo, aqueceu a massa. Colocou o requeijão por cima, pra derreter, sabe como é. E começou a escrever, porque era isso que fazia quando se perdia nos pensamentos e a insônia abalava suas maravilhosas mínimas 10 horas de descanso.

Talvez pudesse ter sido o horário de verão. Mas isso te atrasa (ou adianta?, nunca sabe) o sono uma hora só. Ficar até as cinco da manhã acordada e justificar dizendo que é por causa do horário de verão é querer se enganar. Mas então, o que te incomoda? Mas quem disse que algo incomoda se tu não é capaz de dormir? Vai ver que simplesmente aquela noite tu não deveria dormir e não há nada incomodando. Algo te faz ficar acordada e depois de um tempo tu descobre porque. Se bem que, se até as cinco da manhã nada aconteceu, não há muito motivo pra te manter acordada, não é? Talvez simplesmente não tenha motivo nenhum. Mania neurótica essa dos seres humanos de quererem ver razão para todas as coisas. Ficou-se acordada. Aproveita. São poucos esses momentos de solidão numa casa que é sempre repleta de gente.

Vai ver que era isso: a solidão. Foi deitar e se sentiu tão só. Mas não esse só gostoso, esse só que se escolhe estar. Mas aquela solidão medonha, tipo dama da noite. Fugindo do caminho das trevas em que há o lobo mau. Seguindo a seta que ela mesma criou pra apontar o seu destino, sem nem saber se aquele era o melhor a seguir. Mas, de novo: mania chata essa de ter que saber tudo sempre, seguir o melhor caminho, fazer tudo certo! Errar também é viver - e te faz sentir tão vivo quanto acertar. Sentiu-se só, enfim. E, para não sentir-se só no escuro, foi escrever: para fazer companhia a si própria.

Vai ver o que temeu foi os sonhos que anda tendo. Um pouco escuros e sem sentido. Bastante nostálgicos e poderosos. Ela sempre teve medo quando o inconsciênte a domina mais do que a razão. Com os sentimentos e impulsos que a levavam para lugares que sabia que não deveria estar, mas onde queria estar, sempre se deu bem. Agora, com o inconsciente que se manisfesta sem que ela possua qualquer controle, esse desconhecido, morre de medo. Teme do que pode querer sem nem saber. Prefere continuar na ignorância de si mesma. Foge da escuridão.

sábado, 26 de setembro de 2009

Um último apelo ao ser humano.

Eu poderia simplesmente ignorar, deixar passar (e sempre passa), mas aí não seria eu. Poderia, também, utilizar da introdução do outro e-mail, mas acho que não é preciso repetir as mesmas palavras. Então aqui vai, limpo e cru:

sei que acabei me decepcionando. E não foi me decepcionando contigo, nada disso, foi comigo mesma. Essa minha mania boba de achar que as pessoas pensam como eu, vêem as coisas como eu, sentem o belo e o único. Vivem uma sintonia. Mas às vezes não é assim. Na maioria das vezes, não é assim. E quando eu vejo que não é bonito e simples assim, me bate um misto de tristeza com um pouco de raiva e muita incompreensão.

"Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e, se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas". Bem isso.

Tu não deve estar entendo, então explico: fui na maior das boas vontades falar contigo, de coração aberto, trocar alguns sorrisos e vi tu fugindo de mim, sumindo. Não sei o quão foi coincidência, o quão foi proposital, o quão foi a minha percepção sobre o que tava acontecendo e o quão foi realidade. Mas, senti que fosse exatamente isso: tu me evitando como se eu tivesse te incomodado. Me senti tão boba e como se tu tivesse não entendido - ou ignorado - as coisas que eu te disse. Que não foram nada demais, mas fizeram parte de mim. "Mas a gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros". Por isso te escrevo, pra não criar conclusões de algo que talvez nem ocorreu (para ti) como eu conto. Uma realidade diferente.

Te escrevo porque, no fundo, acho que tem algo aí. É um apelo, novamente. Como se tivesse uma esperança de resgatar e ver o humano dentro de cada um. Dentro de ti. E não o humano amedrontador - que teme, foge, ignora - mas o humano que tanta gente já se esqueceu: o que é igual ao outro e vive e acredita no bem, no melhor. Um pouco de empatia, um pouco de transparência, um pouco de coragem e sinceridade. Esse humano que eu busco em ti, assim como nas outras pessoas.

Não tou te escrevendo pra te cobrar nada (quem sou eu pra fazer isso, afinal). Nem pra te julgar nem pra te assustar novamente. Te "chocar" como tu disse da última vez que a gente conversou. Nada disso. Só não utilizo de simulacros, cansei disso. Essa sou eu: nua e crua. E um dia, quando tu quiser, eu vou querer ver esse teu lado. Um lado que vai além do rosto bonito e das predeterminações, o lado que se deixa tocar e ir ao fundo, o lado que não fala só das coisas bobas, mas das coisas simples e belas: o teu lado realmente mais incrivelmente bonito. Todo mundo tem, mas são poucos que se deixam tocar. Espero que um dia tu me permita chegar mais perto. Te digo que estou diposta a te ver como poucas pessoas estão. E pode soar meio esnobe, como se eu sentisse e fosse mais que os outros, mas juro que não é. É só verdade.

Te desejo, assim, uma boa viagem, seja lá pra onde fores. Que tu tenhas sucesso, que tu sejas feliz e que, acima de tudo, tu te encontre. Acho que essa é a grande busca de todo mundo: no meio dessa montanha-russa que chamamos de vida, queremos nos encontrar. E se tu não te encontrar, que tu te perca um pouco mais. "Vai que ninguém nasce pra se esconder... Seja livre até pra se perder". Que tu sejas, acima de tudo, livre e viva a vida do jeito que tu achar mais certo.

Assim como o outro e-mail eu tinha certeza que tu ia responder, assim eu estou quase certa que tu não vai. Mas, se tu quiser me escrever umas palavras doces e sinceras, me fariam muito bem. Mesmo.

Um beijo.

P.S.: "Te escrevo, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis". Assim acredito.
Não sei a que ponto posso te escrever algo sem parecer rídicula ou tomada de pre-determinações. Vou ser bem sincera: cheguei embriagada de uma festa - acontece, acho que sabes mais do que eu - e comecei a escrever sobre tudo, sobre todos, sobre sentimentos, sobre verdades e mentiras. Tenho isso pela escrita, acho sincero e belo. Já de principio peço perdao pelos erros que hão de vir, sejam eles quais forem, pois já afirmo que não estou na melhor da minhas condiçoes. Mas acredito que, embrigada, me poupo dos pudores e de tudo aquilo que vem a conter qualquer sentimento verídico e próprio do ser humano.
Não queria me desculpar tanto por estar te escrevendo. Queria simplesmente te escrever, sem pudor, nem culpa. Sem medo. Mas hoje os dias são tão incertos que tu nunca sabes quando algo que tu escreve vai voltar contra ti, por mais que seja verdade. Por isso se utiliz de sete linhas para se explicar antes de falar algo verdadeiro que venha da essência, da alma.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

"Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não".

Ai, Vinicius...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

perdida de referências

Não sei bem, às vezes me perco
No meio de tantas histórias, conversas e lutas
Sem um pouco de calma, só cobranças e rugas
É de se ficar assustada, feito criança no escuro

Já nem sei onde estão os contos que escrevi, as cartas que recebi,
Os trechos que anotei, as histórias que eu não contei.
Em alguma caixa, atrás do pó e da memória, talvez
Embaixo da cama, no fundo do armário, perdidos de vez

Escapando de mim pelos sopros, não seguro
Fico aqui, procurando cores pra colorir a solidão
Que só aumenta nesse mundo sem perdão
Atrás de vidas que pulsem demonstrando toda beleza do mundo
Que se resume ao universo de simplicidade sem compreensão

Aceito o que tiver como parte de mim
Faço (d)a arte o que eu quiser desde que faça sentir
Me deixo viver, não peço permissão
Não procuro mais começo, meio ou fim
Aceito a condição de encher o coração hoje nem tão frio assim.

domingo, 30 de agosto de 2009

"Trata-se apenas de manter o azul das tuas asas".


"Quando nasci veio um anjo safado, o chato d'um querubim e decretou que eu tava predestinado a ser errado assim. Já de saída a minha estrada entortou, mas vou até o fim."
Chico Buarque

Não sei precisar qual foi o momento exato que percebi que era torta deste jeito. Sempre soube que a minha inconstância fazia parte da minha personalidade, só não considerava que fosse algo tão assustor e perigoso a ponto de escurecer momentos e transformar em ruínas o que se mantem dentro de si. Depois de muitos vagões, paredes(,) caídas, recaídas, poços, risos e (principalmente) dores - porque se sabe que é só com dor que se evolui - comecei a considerar essa característica tão própria de mim como um defeito. Talvez seja aquilo que o Diego disse de mim um dia desses: que sei ser transparente. Não sei até onde sou sincera comigo mesma - e com os outros - e não sei medir o ponto exato da verdade a se contar ao próximo. Me confundo, me enrolo, conto demais, falo o que não devo - e machuco. A minha verdade fere, com muita frequência. E me dói admitir aos outros que não consigo seguir uma linha reta, um único caminho. Não é falta de palavra, é só falta de rumo mesmo. São minhas asas, que não quero que sejam cortadas. Meu defeito são as minhas asas, já viu disso? Preciso da minha liberdade. Não preciso fazer, mas preciso saber que posso fazer. Preciso ter controle de alguma coisa - e gosto que seja de mim mesma, sem ninguém pra me dizer como agir. Eu nasci assim menina geniosa e impulsiva e acho que gosto desse meu jeito. E, pior do que ser um defeito, é ser um defeito e mesmo assim, gostar-se dele. Quanto colocado na balança, prefiro mantê-lo em mim. E, talvez, seria até injusto se eu o tirasse. E perigoso: nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro (viva Clarice). Diferentemente de antes, hoje assumo minha inconstância - o que já é um grande avanço - e tendo a lidar com ela da maneira mais racional possível. A frente de todos, coloco os pontos nos i's. Sou assim: meio monstra, meio princesa mesmo. Não é nada simulacro, juro que não. Mas é tudo momento. Talvez seja mais até maduro de minha parte saber que nada é para sempre, que as coisas se transformam e que tudo é lindo de alguma maneira. Meio é sempre amor mesmo que mude, assim. Eu sou toda amor, só não sei medir. E não é que seja amor de menos, é amor demais, diz o mesmo texto que dá o nome a esse blog. E às vezes sofro as consequências de ser sempre amor, com quem merece. Sou muito de enxergar brilho nas pessoas e acho a uniquessidade de cada um de encher meu coração. É aquela coisa de ver aquilo que o mundo todo (que mundo egoísta esse!) ignora: o brilho das almas, as cores, os sorrisos, os olhos e todo universo escondido, repleto e sincero atrás dele. Mas depois de subidas e descidas, indas e vindas, vagões, paredes(,) caídas, recaídas, poços, risos e (principalmente) dores, consigo assumir essas conquências do que acho que me faz melhor. Desse jeito torto que eu - e só eu - sei fazer.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

"É sintonia, eu sei, mas de onde ela vem? eu não sei, quero apenas pensar que é bonito, sim, que não é comum entre o comum das pessoas, que é bonito, sim, como uma troca de delicadezas das almas. E amizade é outra coisa? Eu acho que não e, com, ternura, e brindo ao teu brinde."

Do livro que essa da esquerda me emprestou pra ler. Que fala sobre os mais diversos amores. São essas histórias que a gente compartilha, que a gente conta, que a gente troca. É tudo amor, tudinho. É o que mais vale a pena - e vocês mais do que outros sabem. é o carinho, é a ternura, é a doçura. É a gente.

É aquilo de se olhar nos olhos e ver que "é claro que entre nós há uma conexão e é claro que é muito mais além de diversão". Saber que encontrou o teu grupo, a tua turma. Que tem gente que sente e vive e é LINDA e é bonita, é bonita e é bonita. Que não tem medo nem vergonha de ser humano, puro e cheio de falhas e defeitos. Que te empurra pra frente e que tá lá contigo no fundo do poço e voando muito alto no céu. É falar de almas, de cores, de sonhos e ver os olhos brilhando. É uma das mais bonitas formas de amor. E nós bem sabemos que consideramos justa toda a forma de amor. "Quem é que não queria se encontrar?" Sei que me encontro um pouquinho mais sempre que estou com vocês.

São tão lindas, tão doces, tão humanas que eu fico até sem palavras. Obrigada por fazerem eu descobrir um pouco mais de mim e por estarem do meu lado pra encarar o que esse mundo nos reserva. Eu amo tanto que as palavras já não dão mais conta.

(as fotos aqui não são meramente ilustrativas).

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

SRI LANKA, quem sabe?


"E fiquei pensando se era mesmo verdade que ainda sofríamos". Li essa frase do Caio F. hoje no ônibus e pensei na gente. Em nós duas, tão cheias das dores e inseguranças, mas com uma força descomunal. E sabe, depois de hoje, pensei que não sofríamos mais. Que paramos de nos lamentar e fomos à luta pra mudar, pra sermos mais, pra sermos melhores para nós mesmas. Pois somos jovens, repletas de vida, de vontades e de amor. Somos as esquisitas da turma, diferentes, especiais. Com o coração e toda vida pulsando no peito e em todo resto do corpo. Decidimos deixar de ser covardes e encarar o que vier, colocar uma mochila nas costas, os dois pés na estrada e ir embora pra descobrir que pertencemos a esta cidade que muitas vezes nos sufoca e desagrada. Nos vamos nesta procura por nós mesmas que parece que só se dará quando estivermos em movimento. Aceitamos a condição de irmos além - e não sofremos mais. Vamos, "de mãos dadas e de pé até o mais longe que der e enquanto eles tentam nos derrubar, nos ofender, nada pode nos deter - a gente sabe que vai arder". Sei que, embora perdida e com a visão embaçada e cambaleando, não estou sozinha. Sei que te tenho aqui - e me tranquiliza, me dá força, me faz querer ser mais e cada melhor, sempre melhor. E então penso que juntas não sofremos mais. Sei que, contigo, eu não sofro mais. Obrigada, lindíssima. Um beijo enorme nessa tua alma linda.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Nosso caminho é a gente quem faz.

Ontem eu deixei que a vida me levasse mais uma vez por caminhos e pessoas desconhecidas, pra ver se me supreendia ou descobria um pouco mais de mim, dos outros, do íntimo ou do superficial. Naqueles momentos em que o álcool coordena mais teus movimentos do que tu mesmo. Deixei-me levar. Me encontrei no meio de uma dúzia de pessoas nunca vistas antes, num outro mundo que eu, desatenta, havia totalmente ignorado a existência. Um outro mundo que talvez não condiga com o meu ou que já fez parte de mim há anos atrás. Como se já tivesse vivido acreditado e desacreditado em tudo aquilo uma vez. Mas um mundo de pessoas, de humanos e vulneráveis, condenados ao mesmo fim que eu, por mais que fujam e tentem esquecer dessa verdade. Iguais a mim no biológico, mas tão diferentes na essência.
Depois de muita chuva, indas e vindas, falas, carinhos e risadas, uma pessoa que quase ou nada me conhece, perguntou: "Tu tem medo de te relacionar? Tipo, paixões avassaladoras assim". Achei graça porque tal criatura desconhecia todo rótulo que havia sido criado em volta de mim: a mayah é aquela menina-mulher impulsiva e intensa, que dá a cara a tapa sempre, rainha das paixões efêmeras e avassaladoras. Não sei o que fiz ou disse praqueles olhos azuis me perguntarem algo que tinha como tão certo pra mim - e comecei a me questionar no que havia acontecido comigo. Será que mudei e nem notei? Será que estou, realmente, mais pé no chão? Com medo - olha só, MEDO: algo que nunca tive - de me relacionar? Me protegendo, talvez? Fui sempre tão contra essas grades de contenções sentimentais e emocionais, mas será, me diz, será que acabei me aprisionando, cortando minhas próprias asas? Por alguns minutos, caiu o mundo. Como se eu mesma dentro de mim acompanhasse o caos que a chuva e o vento estavam causando do lado de fora do apartamento. Eu, tão cheia de mim e tão segura, sempre crente do meu amor pelos outros, pela vida, me perguntei: será que meu coração se esgotou? Justo eu tão cheia de almas vivas e cores pulando internamente. Eu, que muitas vezes senti que era possível que eu explodisse em borboletas coloridas. Metamorfose pura, com muita cor. Daí pensei que não, que devia ser o álcool, as noites sem dormir, o relógio biológico todo errado. Pensei, então, que só estava procurando o meu lugar, nesse mundo já tão vazio de coisas bonitas. Respirei fundo e ouvi: meu coração ainda bate e eu estou aqui: cada vez mais dona de mim e das minhas escolhas. Sem nada pra fugir ou me esconder. Transparente. Leve. E com o coração cheio, sempre cheio.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

e por que não falar de amor se no fundo é só isso que vale a pena?


"Acordei abstrata, esta é a questão. E, acordar abstrata é estar num meio caminho e ficar deformando tudo, tornando muito mais grave e muito mais solene o que nem é tanto assim, mas. Também rindo meio boba de que, afinal, o que nem é tanto assim."


Entrei no meu quarto e o encontrei com uma meia luz da minha cabeceira, com os livros todos empilhados naquele colchão virado ao contrário que eu uso como prateleira. E na bagunça daquela peça colorida e riscada com os móveis todos trocados de lugar (engraçado como às vezes a gente acha - eu pelo menos tenho essa fé estranha - que mudanças pequenas e muitas vezes sem sentido como cortes de cabelo, um furinho a mais no corpo, um desenho aqui, um escrito ali, um móvel pra cá e outro pra lá, uma cor nova na parade do quarto, enfim, essas minúcias bobas, podem modificar a energia que existe em volta da gente, fornecer ares novos ou até um novo rumo, quem sabe) encontrei um livro que há tempos a Nina me emprestou pra ler. Chama-se "Entre mulheres" e são várias histórias de amores: cada um diferente do outro. Reli aquele que ela disse que eu ia gostar. Helena. Me li do começo ao fim. E ainda começa o conto citando música do Caetano, o Quereres. Deu até vontade de escrever. Pra mim, livro, conto, escrito bom é assim: desperta algo em ti que faz tu pensar e/ou sentir e, pra mim, escrever faz parte do pensar-sentir. Vim pra cá.

(Ainda) falando em amor, hoje eu cheguei em casa só a meia noite e ela pediu pra ir deitar um pouco com ela. Saltou em cima de mim e me apertou tanto que eu senti como se eu fosse uma criança de quatro anos. Disse que tava com saudade e me fez prometer que por mais que eu cresça, eu vou tá sempre por perto. Prometi sem hesitar, é claro. E fiquei toda boba. Esse porto seguro aí se chama mãe.

domingo, 2 de agosto de 2009

E um só coração agora já não basta pra tudo que eu posso sentir.


Para Nina
(Não é a toa que o sobrenome dela é LUZ)

Temos nosso código secreto. Esse, de sentir como ninguém mais. Sabemos o valor das palavras, sorrisos, abraços, lágrimas, sol, estrelas e até da chuva que cai sem previsão de quando vai parar. Falamos pelos cotovelos, braços, mãos, dedos e unhas. E, embora tão diferentes, somos muito parecidas. Como se a força e a determinação dela se unissem com a minha impulsividade e disposição para sonhar, criando essa qualidade-característica-e-até-talvez-quem-sabe?-defeito que é tão única e tão nossa, que só existe quando estamos juntas. Totalmente nova, montada num mundo paralelo, comandado, compreendido e compartilhado por - e só por - nós, com muito gosto-orgulho-vontade. Nos encontramos assim, quase sem querer, por esses bares, ruas, esquinas da vida, como se (os astros? talvez. ou alguma destas forças místicas que nos regem sem nem sabermos) tivessem determinado aquele exato momento para entrarmos com tudo na vida - e no coração - uma da outra. E eu, pelo menos, não vou deixar tu sair daqui tão cedo.



terça-feira, 7 de julho de 2009

eu parei de insistir

"É, eu nunca gostei disso", foi o que ele disse após uma discussão sem sentido incentivada por uma tentativa de segurar e manter algo que já não etava mais ali. Devia ter se perdido entre as tristezas, decepções e mágoas que ambos se causaram nesse um ano de relacionamento fracassado.
"Ainda bem que não tenho mais que te agradar", pensou ela, por sua vez. Mas não disse nada. Que ele viesse com as pedras, cuspes e insultos para atirar, as paredes dela haviam deixado de ser de vidro há algum tempo e não seriam quebradas por qualquer coisa que ele jogasse. Havia construído uma muralha, bem alta, que conseguisse deixar todas as coisas ruins do lado de fora. E voltou a pensar porque havia telefonado se ele, cego de - o que seria? raiva? desilusão? racionalidade? - não era capaz de ouvir mais. E por um segundo, resolveu que não iria se explicar mais. Cansou-se. "Porra! Falarei quantos palavrões quiser, todas as vezes que achar necessário, chorarei por motivos que eu achar digno e usarei meu próprio dinheiro para fazer o que eu quiser, sem precisar me justificar para ninguém!".Teve vontade de dizer para ele engolir o ranço e voltar a viver com toda aquela vida vazia e pobre que ele tinha antes dela. "Não tenho mais paciência com criança - e olha que eu sou infantil".
"Por mais que a gente tente, não tem como ser doce pra sempre", pensou. Com ele, pelo menos, não mais. E embora ela fosse feita só de amor, foi obrigada a vestir a capa da indiferença. Algumas coisas são jogadas na lata do lixo e não há processo que as traga de volta e façam ser o que não são. Às vezes, é preciso um ponto final. E como já dizia o poeta "Todo fim é um recomeço..."

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Talvez pareça desespero, mas é só saudade
Do que um dia fomos e não voltaremos ser
E eu sei que não sumiu nem deixou de ser verdade
Mas acho tão estranho quando o vento bate
pra lembrar que a vida quase que destraída
me levou por outros caminhos que não você

Sabe, eu não quero acreditar que nos perdemos tanto
E que não há o que podemos fazer pra voltar a ser como antes
Não estamos tão longe assim, você sabe bem que
A distância das coisas se mede pelo lugar que ocupam no coração
Todas as cartas, memórias e músicas não somem, é claro que não
E eu já não acho mais que te querer bem é andar na contramão.

Então vai e segue a tua vida, faz o que tiver que fazer
Não vou mais procurar respostas que não existem por não querer
E não adianta cantar nem berrar, eu vou continuar aqui com ou sem você
Não se preocupe, não vou me lamentar e muito menos me arrepender.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

recaída

- Tu vai ficar bem.
É o que ele me diz, assim, de mansinho, passando os dedos devagar pelos meus cabelos, buscando de alguma maneira me consolar do que ele nem sabe direito. Tentando fazer o papel do amigo que te mostra que a vida segue adiante que, enfim, tudo passa e que tu vais sobreviver - com ele do teu lado. Respiro fundo, dou um sorriso falso de lado, tentando me manter firme, como se não tivesse incomodada, como não tivesse desesparada, partida em mil pedaços, tentanto juntar todos os caquinhos quebrados pra me fazer inteira de novo.
- É, eu sei que vou.
Respondo calma, nunca olhando diretamente nos olhos dele, mas reto, como se observasse e buscasse compreender o que acontece dentro de mim. "Vou ficar, sim. Já estive pior", pensei. Mas o que realmente trouxe toda essa insegurança e vontade de sumir, se esconder, cavar um buraco e se enterrar foram aquelas mesmas notas em outras canções, aquelas que não falam mais por mim, nem são mais para mim. O que me confortava antes - isso de não pensar mais nele, no outro, naquele distante, de conseguir seguir em frente e ter controle da minha vida - agora me maltratada, me joga na cara, vendo que só foi feito isso, só se desistiu, só se seguiu em frente porque o outro fez isso primeiro. Ou pior: não fez, não teve que fazer. Simplesmente nunca estava aqui, talvez. "E não é que eu seja de desistir, tu sabe que eu não desisto, mas acontece que eu atingi o meu limite". E se torna tão vazio perceber que não há mais formas pra contar, nem dizer, nem transmitir, que as coisas não vão mudar e que em algum lugar alguma coisa se perdeu, que realmente não está mais aqui. Os telefones não tocam mais, as cartas não chegam, as músicas seguem outros caminhos, os corpos não se tocam e não há mais nada nos olhares que não são trocados. E já se tornou inútil buscar nas palavras, recortes, desenhos, pinturas algo que faça o outro perceber que, afinal, embora eu minta e diga que não, que eu esconda de todos e até de mim mesma - fora esses momentos de dor e clareza - eu ainda estou aqui. Eu ridiculamente estou aqui. Pateticamente, estou aqui. Vulnerável, doida, partida. Ainda só, ainda nua, virando pó e ainda tua.


(esse texto podia muito fazer parte do outro blog lá).

segunda-feira, 22 de junho de 2009

esse jeito irritantezinho

L diz:
até quando eu tava subindo as escadas, pensei "ela tem esse jeito levemente irritantezinho, mas me deixou alegre, já"
L diz:
fiquei alegre de ter conversado contigo, mas nem é por nada dito, é mais pela troca.
L diz:
irritantezinho no bom sentido.
mayah diz:
a gente é bom nisso de trocas, né
mayah diz:
a gente troca bem as coisas em pouco tempo
mayah diz:
enquanto eu conversava contigo eu pensei que perto de ti eu não sou tão impenetrável assim
L diz:
ah, que bonito isso.
mayah diz:
me explica o irritantezinho
L:
mas é, a gente troca rapidamente, daí não perde tempo e vai falar direto do Grande Medo.
L:
que é o que nos une.
L:
tá, o irritantezinho é esse teu jeito de querer parecer mais alegre, mais forte, mais bem-resolvida, mais descolada até, do que eu sei que é.
L:
mas eu não caio.
L:
mas tu sabe que eu não caio.
L:
daí a gente se entende.


Pra ele que não cai, que me desvenda e me desnuda tão naturalmente que eu sequer consigo evitar, fugir, disfarçar. Ele que com aqueles olhos azuis - da mesma cor do céu das tardes quentes daquele melhor verão - consegue ver através de mim, enxergando o que tento esconder no lugar mais escuro e profundo do meu corpo, alma, coração. Ele que nos encontrões em corredores, entradas e saídas de aula, em trocas de sorrisos, abraços e meias frases e palavras inteiras como se fossem selecionadas para um roteiro pré-determinado, consegue ajudar a desvendar um pouco mais de mim, no meio dessa bagunça que é viver.

sábado, 20 de junho de 2009

Ainda sobre escrever:

Falando com o Z - uma dessas pessoas iluminadas que tu vê de longe que é do bem e que sente como poucos - nas raras (infelizmente) conversas que temos, ele comentou sobre a música que ele compôs (que é uma das coisas mais lindas que eu ouvi nos últimos tempos). Disse que não tinha sido ele quem a fez, que ele pegou ela por aí, no ar. Achei tão bonito. E o especial é que não é uma daquelas frases de efeito. Ele realmente deve ter pegado ela por aí, no ar. Li uma vez que nós, seres humanos, fazemos parte do universo e através de nós este tenta se expressar. A evolução não passa do universo buscando a perfeição para expressar a si próprio. Massa, né? Acontece que nos desligamos tanto da nossa origem e somos tão consumidos por outras distrações externas que, destreinados e esquecidos, nem percebemos o que o universo se esforça pra nos transmitir, passamos reto, nem sentimos. Mas o Z, sensível como é, conseguiu pegar essa boniteza toda, pairando no ar.
Segue a letra da belezura aí:

Um Pouco Só

Eu andei me achando um pouco só, um pouco demais
Apesar de quase nunca ter lhe demonstrado
Normalmente me disfarço em linhas feitas pra pensar
Mas isso não quer dizer que eu esteja fugindo

Não importa quanto tempo vai durar
Não nado contra

Prefiro conversar sobre a vida, a paz e a guerra
E como nos sentimos sós quando o vento sopra a vela
Será que nada faz parar todo esse cinza na janela?
Que poe as cores para descansar quando a gente menos espera

Se estamos juntos nessa solidão
Não nade contra

Prefira conversar sobre a vida, a paz e a guerra
E como nos sentimos bem enquanto o vento sopra a vela
E não vai mais poder lembrar daquele cinza na janela.
Por que as cores todas vão dançar enquanto a solidão espera.


P.S.: Depois de postado, lendo aquela mesma carta do Caio F. pro Zezin, ele diz o seguinte: "Às vezes penso que, quando escrevo, sou apenas um canal transmissor, digamos assim, entre duas coisas totalmente alheias a mim, não sei se você entende. Um canal transmissor com um certo poder, ou capacidade, seletivo, sei lá". Caiu feito luva pra esse post aqui.

Um dia desses tava reclamando (de novo pra mim mesma - e faço isso muito) que não conseguia mais escrever. Não saía, sabe, não fluía. Ainda não flui. Dai tava aqui sem fazer nada e resolvi ler um pouco mais de Caio (porque ele sim flui que é uma beleza) e a carta dele pro Zezim diz o seguinte: 'Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.' Talvez - e eu digo talvez porque atualmente tenho receio de fazer qualquer afirmação fatal, que não conste um pouco de dúvida - talvez eu tenha medo, mesmo. Porque dói, dói, dói. Melhor deixa lá guardadin porque daí não dói tanto, sabe. Dói só um pouco, internamente. Mas de repente explode e já era, sai tudo em vômito de palavras, em choros desperados, em ligações que não deveriam ser feitas, sentimentos tão controversos que não deveriam ser expostos. Mas, uma hora ou outra, sempre são. Ele fala na carta de escrever sobre "as vontades mais homicidas, o aparentemente inconfessável, as culpas mais terríveis". Acho que ainda não tou pronta pra repetir as minhas vontades que são frequentes e não passam, pra confessar tais sentimentos, nem tenho paciência nem folêgo para me culpar por nada. Não quero sua desculpa, nem aprovação, poupe-me de seu perdão.

Ele diz, ainda na mesma carta, que conheceu Clarice Lispector, que foi por muito tempo a minha musa. E disse que ela era muito infeliz e morreu sozinha, sendo chamada até de "meio doida". Fiquei me perguntando se seria esse meu destino, por sentir demais, sofrer demais, me perder nas palavras, pensamentos, sentimentos: morrer só e incompreendida, como ela. Não que eu esteja me comparando à Clarice Lispector - não chego nem aos pés da genialidade dela - mas tem algo nela que diz muito, muito sobre mim.

Logo depois que eu escrevi sobre vomitar o que se escreve, encontrei o Caio, de novo, falando com o Zezim: "Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente". Como se estivesse me dizendo: toma coragem, vai lá, mete o dedo, passa mal e vomita. Não quero ficar com essa náusea seca pra vida toda, não quero não.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ainda bem

Hoje faz um ano dessa reviravolta toda. Que eu me encontrei, me perdi, que cresci e algumas horas fui muito mais, outras muito menos do que eu sou. Não sei se é bom ou ruim, se tou comemorando ou só constatando. A verdade é que não conseguiria – nem poderia - deixar passar essa data em branco.
Ontem eu tava conversando com a Tex sobre como as coisas ficam mais leves quando as esperanças e as expectativas se acabam. É aquela coisa do “tudo perde seu valor quando se espera algo em troca”. Apesar de ser um pouco triste não esperar mais, de desistir – não bem essa palavra, mas uso essa por falta de outra melhor – tem-se uma sensação de liberdade, de que, enfim, se superou. Não que tenha passado ou sido esquecido, mas foi superado. Percebe-se que se tornou algo que é possível olhar para trás sem dores nem mágoas, com carinho e um pouco de nostalgia, mas nada que te arranque o coração fora, que dê aquele aperto no peito, como antes. E embora sempre haja recaídas e se saiba que o coração vai bater mais forte quando ele te ligar ou se encontrarem num desses dias, esquinas, vidas, embora saiba-se que algumas coisas não vão mudar, que ele ainda vive dentro de si própria e que pense nele todos os dias - mesmo que negue - embora todas essas situações e outras mais que não convém citar, consegue-se seguir em frente para, quem sabe, um novo amor. E de algum forma, de algum jeito torto, esse mesmo, que eu sei e gosto muito de fazer, levanta-se a cabeça e caminha-se pra frente, no começo meio bamba, com medo de tropeçar, mas logo com passos firmes e fortes, te levando pra um novo lugar. E, apesar das partidas doerem, das respostas nunca chegarem, dos dias de angústias, tristezas e saudades, apesar apesar apesar, sabemos que valeu a pena, que não seria a mesma se não fosse ele, que se tornou uma pessoa melhor, mais completa e verdadeira. Valeu a pena e ainda vai valer, sabemos no fundo. Porque não morreu, porque é o tipo de coisa eterna que vai nos alegrar por muitos anos, porque amor como esse não some, nem desaparece. Porque é real e bonito.
E no fundo, só o que espera é que daqui a um ano possam se encontrar e dizer “hoje faz dois anos” e sorrir e ver que não sumiu, que ainda guardam o mesmo carinho, amizade, cumplicidade. E que, quem sabe, exista ainda um pouco de paixão, vontade, tesão. Que possam viver aqueles momentos intensamente como sempre souberam fazer e que consigam dizer adeus sem que doa. E que ainda, daqui a muitos anos, se encontrem só para dizer “ainda bem que no meio de tanta gente eu encontrei você”. Ainda bem.