domingo, 6 de dezembro de 2009

Desamores também acabam

Acho, sim, que um dia esses desamores vão acabar. E apesar do gosto do fracasso, de se falhar novamente, fica algo bom aqui. Sempre se mantem algo bom, bonito, belo, do bem aqui. Todos os b's. Diria aquele famoso "B de _ _ _". Forca. Bem enforcada, sufocada, assassinada. Morta de amor. Mas não cabe e nem considero mais. Passou, mas é difícil pensar em outra coisa quando falo em desamor. Hoje, é outro. Amanhã, mais um. Mas hão de acabar, enfim. Em algum momento, a gente se aquieta. Se aquieta ou desiste. Endurece, talvez. Não sei se amadurecer é endurecer, parar de acreditar. Às vezes, acredito que sim. Mas enfim, a gente se desliga. De tudo. Pra poder pensar - ou não pensar - pra poder fugir. Pra fechar os olhos e só enxergar o que quer se ver. Pra, em poucos momentos, horas, minutos, criar o mundo de novo. Criar o mundo pra ti. Do jeito que tu quiser. E, sozinho, entre quarto paredes, com o mundo parado - enquanto a terra gira lá fora - faz-se o que quiser, torna-se quem quiser, inventa-se e acredita-se no que quiser. E nos sentimos bem.

Hoje, me desliguei. Nada de telefones, de msns, de chats, de ligações de madrugadas, de vontades de convidar para fazer algo. Hoje, sou eu. Só eu nesse quarto cheio de roupas, frases e refrões que me vestem de mim mesma e me fazem sempre estar bem. E, se não fazem eu sempre estar bem - porque às vezes até não-estar-bem é bom - , me fazem ser eu. E nesse fracasso não tão fracassado assim, sinto um certo gosto em ser eu mesma, quietinha, sumida. Sozinha. A solidão doce, não medonha. E não dura por muito tempo: amanhã tem mais sol e eu vou tá pela rua, me distraindo com todas essas almas vivas que enchem meus dias de cores, que não há cobranças, nem nada além daquilo que se dá. Com as minhas pessoas que são minhas do jeito que são, sem querer que seja algo a mais. Não sei porque não conseguimos ser sempre assim. Porque, diabos, temos que possuir alguém. Bobagem, bobagem. Acho mesmo bobagem. Mas não consigo fugir disso, desse imposto pela sociedade-totalmente-controlada-estipulada-manipulada-regrada. Bem boizinho mesmo. Mas, como ia dizendo, hoje, nessa noite de verão, de sons tranquilos, de leituras e escritos, sou eu. Só eu. E tinha até me esquecido de como gosto de ser só eu de vezenquando.

Mas como eu ia dizendo, acho que esses desamores vão acabar. Não que eu vá encontrar o amor-da-minha-vida-meu-deus-como-tu-sempre-foi-tudo-que-eu-quis. Cada vez mais acredito menos nisso. Penso que vou acabar feito o Caio ou a Clarice, meus ídolos, tão sentimentais, cheios de amores, complicados, sarcásticos, às vezes até meio naja, e sozinhos. Amores irreais, intocáveis e platônicos. Porque, enfim, os maiores amores sempre são os platônicos, os impossíveis. Se não dói, não é amor. É triste triste triste, wertheriano pra caralho, mas é verdade. Amores à distância, amores impossíveis, ele-gosta-de-mim-mas-tá-namorando, ela-gosta-dele-mas-não-pode-agora, eu-gosto-dele-e-ele-gosta-daquela-vaca, ele-gosta-de-mim-mas-eu-gosto-do-seu-melhor-amigo. A arte de complicar, de querer o intocável. Sabe-se bem que procuramos o palpável, vermelho, vivo e intenso. Mas esquecemos que depois vira rotineiro, desbotado, semi-morto e sem graça. E nunca se sabe dizer o que houve de errado, quem foi o culpado. E, na maioria das vezes, nem há um culpado. Mania absurda de ter sempre um vilão e um mocinho na história. Somos os dois, o tempo todo, a cada segundo: o maravilhoso herói de coração enorme que salvará o mundo e o vilão macabro angustiado e vingador que quer que todos se explodam. Máscaras de identidade a cada segundo, cê sabe. Sim, até eu, que pago de toda doce, coração grande, tenho vontade de mandar as pessoas a merda e largo umas estupidez bizarras de vez em quando. Sou humana. E é realmente é muito fácil justificar atitudes dizendo isso: sou humana. Mas sou e tento nem julgar ninguém mais porque, enfim, você também é. E você também faz merda. Não venha me dizer que não: no fundo, cê sabe bem: você também faz merda - e das grandes. E tem amores, impossíveis. E vai ter desamores, logo, logo. Que vão acabar, um dia.

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