quarta-feira, 1 de julho de 2009

recaída

- Tu vai ficar bem.
É o que ele me diz, assim, de mansinho, passando os dedos devagar pelos meus cabelos, buscando de alguma maneira me consolar do que ele nem sabe direito. Tentando fazer o papel do amigo que te mostra que a vida segue adiante que, enfim, tudo passa e que tu vais sobreviver - com ele do teu lado. Respiro fundo, dou um sorriso falso de lado, tentando me manter firme, como se não tivesse incomodada, como não tivesse desesparada, partida em mil pedaços, tentanto juntar todos os caquinhos quebrados pra me fazer inteira de novo.
- É, eu sei que vou.
Respondo calma, nunca olhando diretamente nos olhos dele, mas reto, como se observasse e buscasse compreender o que acontece dentro de mim. "Vou ficar, sim. Já estive pior", pensei. Mas o que realmente trouxe toda essa insegurança e vontade de sumir, se esconder, cavar um buraco e se enterrar foram aquelas mesmas notas em outras canções, aquelas que não falam mais por mim, nem são mais para mim. O que me confortava antes - isso de não pensar mais nele, no outro, naquele distante, de conseguir seguir em frente e ter controle da minha vida - agora me maltratada, me joga na cara, vendo que só foi feito isso, só se desistiu, só se seguiu em frente porque o outro fez isso primeiro. Ou pior: não fez, não teve que fazer. Simplesmente nunca estava aqui, talvez. "E não é que eu seja de desistir, tu sabe que eu não desisto, mas acontece que eu atingi o meu limite". E se torna tão vazio perceber que não há mais formas pra contar, nem dizer, nem transmitir, que as coisas não vão mudar e que em algum lugar alguma coisa se perdeu, que realmente não está mais aqui. Os telefones não tocam mais, as cartas não chegam, as músicas seguem outros caminhos, os corpos não se tocam e não há mais nada nos olhares que não são trocados. E já se tornou inútil buscar nas palavras, recortes, desenhos, pinturas algo que faça o outro perceber que, afinal, embora eu minta e diga que não, que eu esconda de todos e até de mim mesma - fora esses momentos de dor e clareza - eu ainda estou aqui. Eu ridiculamente estou aqui. Pateticamente, estou aqui. Vulnerável, doida, partida. Ainda só, ainda nua, virando pó e ainda tua.


(esse texto podia muito fazer parte do outro blog lá).

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