quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Esse foi escrito em 8 de outubro de 2010 e eu gosto MUITO dele.

Desaprendendo.

Não gosto dos textos de “aprendi que…”. Porque, embora acreditamos que estamos a todo tempo aprendendo algo, estamos desaprendendo. Desaprendendo a falar, a ser sinceros, a ser da essência. Aprender a jogar não é aprender. Ter resoluções que não levam a nada - a não ser para escrever um texto bonito, as pessoas te elogiarem e você achar que é uma pessoa melhor - não é aprender. Se dar conta do que você nunca precisaria aprender, se você não permitisse ter sido corrompido aos longos os anos, não é ser uma pessoa melhor. É voltar atrás. É se mostra vencido. Se mostrar vencido não é ruim, mas não tem toda essa nobreza que você exala apresentando que baixou a cabeça e decidiu um dia “olha só, como eu sou coitado, fui orgulhoso e bati de cabeça tantas vezes e aprendi, finalmente”. Bem incoerente e revoltante assim. E culpam a mídia, culpam a sociedade, culpam seus pais, culpam seus amigos. Culpe a si mesmo. Com todo esse aprendizado que você diz que tem, o que você tem feito? Você tem amado ao próximo como a ti mesmo? Você tem amado teus inimigos? Ou tem esbarrado nele em festas, derrubado copos de cerveja? Você ajuda uma pessoa a juntar as coisas que derrubou no meio da rua num dia de chuva? Ou você segue apressado o seu caminho? Você possui compaixão? Aquela dos países germânicos - que é compartilhar o sentimento que o outro sente, não essa bobagem que nós, dos países latinos chamamos de compaixão. Goethe (foi Goethe?) diz que a gente confunde compaixão com piedade. Quanta bobagem, nós, amantes latinos, tão animados e calorosos, tão mais receptivos e amáveis que o resto do mundo. Então me diz, ó nativo do país que estende a mão, VOCÊ TEM ESTENDIDO A MÃO? Você aprendeu, com todas essas vivências que diz possuir, você voltou a ser inocente como uma criança sensível e tem feito o melhor para os outros, qualquer pessoa que cruze a sua vida? Você tem amado estranhos tanto quanto ama a sua família? Aprendeu a valorizar seus pais? Devíamos, DESDE SEMPRE, valorizar o ser humano, QUALQUER SER HUMANO. Devíamos ter respeito, solidariedade, compaixão. E me irrito com o mundo, com você, com meus pais, com a sociedade, com a mídia e, PRINCIPALMENTE, comigo. Que tou aqui, escrevendo esse texto, mas não fazendo tudo que poderia fazer. Sei que hoje, ao sair dessas quatro paredes em que me prendo para no final do mês ganhar algum dinheiro para que possa, não mudar o mundo, mas pagar minhas festas, bebidas, roupas e futilidades, sei que ao sair dessas quatro paredes vou sentar na sarjeta na rua enquanto a chuva caí e admitir que nesses meus 21 anos de estradas e desencontros e ditos aprendizados, não aprendi nada. E quem sabe, AÍ, eu possa ser uma pessoa melhor.

Boa sexta.

Esse é de setembro de 2010 e pode ser encontrado aqui: http://coracaodetinta.tumblr.com/post/1052156802/pra-mim-escrever-e-uma-especie-de-criacao-de


Pra mim, escrever é uma espécie de criação de identidade. De construir e si mesmo. Uma espécie de garantia de si próprio. Como se ficasse evidente tudo que se é, que se busca, que se quer. Mesmo dizendo o que não se quer, constrói-se algo: o não querer.

Não pararei de escrever, mas tenho tentado me buscar além daqui, além das palavras. Porque eu não preciso narrar e falar das coisas para elas existirem. Eu não preciso limitar elas em folhas, livros, papéis ou textos. Elas podem ficar aqui dentro sem se debater. Elas podem não ser nomeadas nem determinadas. Elas podem existir sem motivo. Porque algumas coisas simplesmente não tem uma razão. E preciso aprender que isso é bom, que isso é capaz de ser tolerado, que é até bonito e, principalmente, parte da vida. Assim, me ensino que não preciso ter sempre raízes. Que posso ter asas que tanto escrevo que tenho, mas andam um tanto quanto fechadas e presas. Preciso de um voo. Um mergulho. Saltei.

Esse é de 26 de Julho e foi postado com a foto aqui:
Eu reli agora e lembrei que gosto bastante. Só não tem nome.

Foi então que eu tive vontade de muitas coisas. De escrever, de falar dele, do outro, de mim, de ninguém. Falar dos riscos que fiz no rosto enquanto ouvia aquela banda que não lembrava a ninguém mais além de mim e me lembrava de todos ao mesmo tempo. De contar de todas as vezes que fugi e fingi que simplesmente não queria mais, mas quando o que eu mais queria era estar lá e não fugir e não temer e parar. Eu tive vontade de acender incensos e lembrei que tinha alergia e espirrava sempre com o cheiro e que não havia incensos em casa. Fora aqueles que comprei nesse verão na cidade baixa porque o vendedor falava num sotaque espanhol bonito e era muito simpático e me fez rir e um sorriso vale dois reais quando a pessoa necessita. Mas depois encontrei ele outra noite quente nas mesmas ruas e ele me veio com o mesmo discurso e então perdi o encanto e nunca mais tive vontade de acender incensos. Não que eu fosse acender – já disse que me dão alergia? – mas eu antes tinha vontade. Deixei de ter quando vi os mesmos argumentos, as mesmas brincadeiras, a mesma estratégia. Hoje, enquanto pensava nele, no outro, em mim e ninguém, tive vontade de acender incensos. E pensei se eu não era que nem aquele vendedor ambulante, que também repetia ações, fatos, palavras, estratégias. Se não somos todos repetitivos. E então me olhei no espelho. E comecei a pintar o rosto, usando aquele estojo de maquiagem há quatro anos – nossa, já faz quatro anos? – guardado no armário do banheiro. Não sei se havia um motivo específico, mas agora relatando me questiono se não foi para provar que não sou repetitiva. Que ainda tenho algo de criativo em mim e que é desperto a qualquer hora e então passei a sombra preta e aquele pó foi pintando a minha pálpebra. Não havia pincel, não encontrei e nem quis muito procurar, com medo que o impulso de pintar o rosto sem motivo algum passasse. Eu nunca fui detalhista, muito menos perfeccionista mesmo. Me senti meio primata, um pouco índia, pintando o rosto com as mãos. Creio que foi nesse pensamento que pensei que pintar os olhos apenas era muito atual e eu queria algo além, algo mais da essência, algo que passasse do comum e das limitações que a sociedade – que papinho de socialista furado esse, hein, moça – impõe. Então peguei o delineador e risquei o rosto. Primeiro um traço fino. Outro mais grosso. Uma mancha, um borrado. Não tem problema. Do outro lado, um coração. Comigo, sempre tem coração. Não saio do clichê, mas é o meu clichê. Que nem as palavras do vendedor ambulante eram as palavras dele. Quis acender um incenso, busquei nos meus armários tão bagunçados, não encontrei. Naquele momento eu acenderia e espirraria e acharia lindo que estava com um incenso aceso e espirrando e pintando rosto e ouvindo minhas músicas e rindo e chorando e interpretando e me destruindo de mim mesma, e me encontrando em qualquer outro lugar desse quarto que até que enfim está tomando a minha cara. Até aquela mancha rosa na parede que eu tapo com um quadro de fotos preto-e-branco – pra lembrar que preto e branco também é cor – é a minha cara. Sou meio manchada, assim. Meio incompleta, também. Mas pintada, dançando, rindo e sóbria sóbria sóbria eu tava sendo sincera comigo mesma e ainda mais além. Então tirei fotos, mas daí já roubei toda a sinceridade do momento e logo me arrependi de ter tirado as fotos e me senti feito os índios que achavam que a câmera fotográfica roubava a alma, mas acho que eles confundiram a palavra, creio que eles queriam dizer que a câmera rouba o momento que em vez de sentirmos estamos preocupados em retratar. Então a mágica quebrou e eu peguei minhas roupas e fui pro banho. Pensei, de novo, que queria muitas coisas. Talvez não incenso, mas velas. Eu gosto de velas. E falar dele, também. Dele não sei se gosto. Mas não agora. Falo em breve. Num próximo texto. Numa próxima vida.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Cadê teus textos?"

Engaiolados, trancados em alguma gavetinha dentro de mim. Penso que cansei de me repetir, de falar das minhas inconstancias, das minhas procuras, das minhas (in)seguranças e tristezas. Poderia escrever sobre tudo isso, como já escrevi. Só que momentos tão únicos quando nao expressados são tão medíocres quando colocados em palavras.
Não tenho escrito por não saber o que viver e não querer provocar nenhuma bagunça além da já existente aqui dentro. Minha inconstância e gênio forte já são maléficos suficientes fora para além do meu corpo e coração. Quando estão aqui dentro, me preocupam ainda mais. O problema é que escrever é se procurar. Ando segurando as rédeas pra não perder o controle das situações. Para não perder o controle de mim. Conversava com ela, aqueles olhos claros que me fitam toda segunda e sexta-feira. Pra começar e terminar a semana com alguma conclusão que pareciam tão claras mas iam - e ainda vão - se perdendo ao longo dos dias. Me olhou e disse que eu era muito esperta, que todo esse tempo que pensavamos que eu fugia dos outros, fugia mesmo de mim mesma. Calei-me. Não tinha muito o que dizer depois dessa conclusão. Vou falar o que? "pronto, me desvendou"?. E do que adianta se desvendar se não se sabe o que fazer com isso? Revolution is not easy with a civil war on the inside, já dizia o poeta. Daí lembro da frase do Nenê de 'eu estou cansado de estar cansado' e de que " 'calma não é pra mim' foi só uma frase que inventei pra me manter no meio do redeminho". Porque eu gosto do redemoinho. Eu gosto da montanha-russa, do frio na barriga, do incerto. E por isso a inconstância. São muitas aqui dentro numa total incoerência e ela me apontando o quão frágil e forte eu sou. O quanto eu gosto do drama. Escrevi há poucos pra vida que a gente se vitimiza tanto. Costuma a achar as coisas maiores do que são e se sente idiota por saber que tá fazendo tempestade em copo d'água, mas sem conseguir parar de fazer. É que a gente teme o normal, o rotineiro. Porque, pra nós, o normal, o rotineiro, mata. Consome, cega, acostuma, lava o teu cérebro e tu acha que aquela é a única opção da vida, quando tu podia estar fazendo um milhão de coisas - longe de tudo isso que a gente construiu. E acabo pensando se o que eu faço não é simplesmente banalizar tudo que eu já construí. Cuspir no prato que comeu, sabe? Diminuir tudo que se criou, para si. Não sei o quanto querer mais e diferente é bom, é revolucionário. Ou só é fuga. É não saber lidar com dor, com pesar, com desconforto, desagrado. Pular fora na primeira discordância, no primeiro mal-estar. É ir pro calmo, pro seguro, pro que se tem controle. Pra poder construir qualquer castelo de cartas novamente e abrir a janela para que o vento entre e derrube tudo. Acontece que a gente se esquece que life starts when you get out of your comfort zone. Daí me acho mesmo uma hipócrita, uma fraude, uma ilusão (maya maya maya). Penso que tudo que falo é pra construir alguém muito mais forte, bacana e descolada do que quem escreve agora. Mas depois releio os textos que escrevo e não me acho nem um pouco frágil, clichê e medrosa como as palavras que aqui me definem. Daí ela me olha de novo naquelas quatro paredes brancas, onde eu sento na cadeira mais colorida sempre e me diz "acho que tu tem medo. mas do que tu tem medo? e qual é o problema de não estar tudo bem? qual é o problema de estar tudo parado?". E me acho total incompetente de não saber responder nem do que tanto temo. Porque pra mim, tudo é fantasia sempre, por mais que sempre peça coisas mais reais. Concluo que, pra mim, o real é a fantasia. E é perigoso que se imagine que o real possa ser fantasia porque a fantasia é perfeita. A fantasia é como a gente quer que seja, no momento que a gente quer. Na fantasia, pode-se querer tudo, ao mesmo tempo. Em questão de segundos, se está em outro lugar, com outras pessoas, falando outra lingua, vivendo outra realidade. Na fantasia, ninguém fica magoado. Na fantasia, tu é o centro - e só. E daí pensei MEU DEUS DO CÉU, como eu sou boba e egoista de querer viver na fantasia o tempo todo, de ter tudo certo aqui dentro da minha mente e como sou covarde de não encarar o que realmente é realidade. De odiar encarar o dia a dia, em que a chuva não é bonita e romantica, mas sim traiçoeira (chuva neeeegra) e traz doença e sujeira e mal humor. Nada de bonito. Chuva é bonita dentro de casa escutando música. Dentro de casa escutando música é fantasia. Realidade é sair correndo do almoço, atrasada pra ir trabalhar - na chuva. Chegar encharcada e não ter tempo de se secar porque na realidade o telefone não para de tocar, as demandas nao param de chegar e só existe desencontros e desavenças. Realidade é o não controle. E realidade é a vida. Fantasia serve pra impulsionar. Mas se não impulsiona, se só imagina, sonha, nada adianta. Todo mundo deveria sonhar, sim. Mas todo mundo deveria encarar a realidade. e E AI, vai ter isso isso isso de dificuldade, VAI ARREGAR OU VAI ENCARAR? Tu vai ter que acordar todo dia as seis da manhã, ler um milhão de textos, passar fome, pegar ônibus lotado, discutir com um monte de gente, não baixar a cabeça. Porque o mundo não é perfeito e a gente tem que batalhar por igualdade, por segurança, por sinceridade, por educação, por cultura. PORQUE NA FANTASIA todo mundo tem isso. E melhor do que viver na fantasia querendo que seja real, é construir um real que parece fantasia. Não o tempo todo. Mas o tempo que der. E isso é a gente que faz. Não são os outros. É a gente. Escolho não arregar e me dói colocar na parede. Me dói ao mesmo tempo que fortalece. Por onde andam meus textos? Engasgados por aí. Mas pra conseguir continuar convivendo comigo mesma, pelo menos por um tempo até que eu me aquiete e aceite todas essas condições de mim, enquanto olhar no espelho por muito tempo me dar vontade de destruir a mim mesma e todo o resto do mundo, enquanto isso, não escrevo. Pra tentar me descobrir no tempo, sem forçar. Pra ir até onde eu possa aguentar. 'Peixes é ir até o limite, ir até a beira do abismo e balançar os pés'. Tou balançando aqui. Mas tenho que voltar, não posso me atirar. Porque se atirar e sair voando é fantasia. E eu tou vivendo no mundo real. E meus textos são fantasias, fingindo que estão no mundo real. E não posso mais fingir desse jeito.

sábado, 30 de outubro de 2010

todo fim é só um recomeço

“Minha aparência é péssima, a mente e o corpo exaustos. Mas existe uma tranqüilidade estranha. Não tenho mais nada a perder. Não sabia que o mundo era assim duro, assim sujo. Agora sei. Tenho apenas essa consciência, que só a loucura ou uma lavagem cerebral poderiam turvar. Sobrevivo todos os dias à morte de mim mesma. Sinto como uma virilidade correndo no sangue.”

Caio F.

E eu já me acostumei a achar que faço tudo errado. Que qualquer desencontro ou briga que aconteça é culpa minha. Culpa do meu jeito torto, passional, atrapalhado de ser. Mas daí penso que ninguém, em momento algum, deve deixar outro com quem se diz preocupar sozinho sentado na mureta, ainda mais quando o corpo pede descanso e a fala procura um porto seguro que vem a apresentar segurança nenhuma, apenas bomba relógio. Sei que muitas vezes sou insegura, injusta, egoísta. Momentos que passam tão veloz quanto um assopro de vela e volto a ser preocupada, dedicada, justiceira. Mas atitudes como essa – gritos na frente de uma platéia, abandonos sem sentidos, palavras duras – que eu, no meu maior cuidado, apesar de irritada, triste, possessa, nunca tomaria. Fiz um voto. Nem contigo, mas comigo mesma. De cuidado com quem eu digo que quero bem. E o cumpro.

Piso em ovos, me calo pra não criar mais desavenças. Perde-se cumplicidade e só trazes armas e pedras. Me acusas dos teus erros, dos teus medos, das tuas ansiedades. Não sou nenhuma santa e também perco o controle. Mas nossa, sei abaixar a cabeça e faço isso com freqüência. Sempre que tua voz calma se apega apenas a fatos pontuais e não há história inteira. Me enrola e aceito, porque achava que queria estar aqui. Isso não é nenhuma batalha, como tu lembra o tempo todo. Argumento de guerra pra que eu tire minha armadura e tu ataque de forma mais ágil para o que? Fico sem entender, não sei onde queres chegar e, sinceramente, depois dessa, não quero nem saber. Que chegue – sozinho.

E diz que eu sou infantil, menina que não sabe nada do mundo, que não sei vier sem drama. Ainda grita comigo na frente de todos e eu morro de vergonha e pego minhas coisas e vou embora. Entro no primeiro táxi que encontro e não agüento ouvir o motorista falar das maiores bobagens do mundo e eu rindo pra não transparecer que tudo aqui de mais bonito que dentro se vai embora, se desmancha, se desfaz. Todo o mundo que criei, nos últimos dois meses, escorrendo pelas mãos. Sei que vai criticar meus textos, minhas músicas, minhas maneiras de procurar respostas. Aponta o dedo para mim para as minhas formas de expressão, mas me culpa e me julga sempre que não consigo compreender as tuas. Quando digo que não acredito que não consigas dizer a tua própria namorada que gostas dela e me argumenta que é um problema teu de vida, penso que ainda não encontrou alguém que gostes o suficiente para dizer tal coisa. Porque quando se gosta, não se segura. É aquela coisa que escapa da boca sem se controlar. Quando vê, se disse. Como se o sentimento fosse maior que do que o próprio processo de perceber o que se estar sentindo. E é. Assim, acabo concluindo que não gostas tanto de mim e então me acho boba e realmente infantil e me sinto péssima de não entender que existem outras realidades de gostar além da minha. E digo ‘deixa de ser boba, é óbvio que ele gosta’. Me contradigo e me faço ficar quieta. Me redimo e ligo e procuro e tento entender tudo e mais um pouco de ti. Sem sucesso. Mas quando me abandona numa mureta suja com toda essa fraqueza e dor e perda no corpo e no coração, quando me deixa de lado em qualquer crise que não consigo – nem me da espaço – pra entender, quando aumenta a voz e me envergonha e humilha, penso como pude deixar eu mesma calar a minha boca se sempre estive tão certa. Juro de pé junto que nunca mais vou ceder e me permitir ser levada até esse ponto. Penso que é aquela parte de mim que não tem remédio, aquela romântica que procura o encontro e o final de feliz. Mas daí acontece esses fins trágicos em que eu mando o taxista que não pára de tagalerar estacionar o carro na frente da tua casa. Eu desço e deixo tua camiseta na caixa de correio, escrevo um recado ameno como se pedisse desculpas, pra deixar todo esse caos mais tranqüilo. O bilhete fica apagado com a caneta que não risca mais – como a gente: recado apagado com uma caneta que não risca mais. E eu tentando. Tou cansada da falta de soluções. Tou exausta de me sentir por dentro como hoje, na noite de halloween, me apresento: ensangüentada, rasgada, suja, estragada. Penso mesmo que todas essas tuas ações e desistências são pura covardia de te enfrentar, de me enfrentar. Sinto raiva e ao mesmo tempo me sinto tão cansada pra sentir qualquer coisa. Saio do prédio e caminho pelas ruas pelo lado oposto do que deveria. Me encontro tão sozinha e penso que diriam que é perigoso uma menina perambular assim pelas ruas do Bom Fim a essa hora da madrugada. Pra mim não parece nada perigoso perto da crítica escolha de estar com alguém, de apresentar tuas falhas, seus medos, seu ponto fraco. Como fiz contigo, um dia. Caminhando, penso que me esqueci de deixar as chaves do teu apartamento, pois não sei mais se voltarei a as usar. Não sei o que esse tipo de ação tua significa, mas é difícil para mim que não seja o fim. Já não espero mais ouvir tua voz e não penso que voltará a me ligar, e que se ligar, não irei atender. Que eu não deveria sentir, nem me redimir nem passar por esse tipo de situação, de dor, de vazio, de total descaso. Todos os planos e conversas e vontades e cumplicidade que tentamos ter vão embora e não é só tu que sai de mim, não é só tu que vai embora. Leva contigo toda minha crença de algo que mais uma vez poderia ser, mas não foi. E, concluo, de uma vez por todas: o amor não é pro meu bico. E eu, que quero tanto e procuro tanto em todas as coisas, me encontro sozinha na frente do teclado em busca de uma companhia de ninguém mais além de mim, através de um documento em branco. Não tenho nem coragem de pedir ajuda pros meus grandes amigos companheiros de vida, porque não quero assumir mais uma vez que falhei. Que falhei, que me iludi, que me doei e que perdi mais uma parte de mim. Porque não há palavra alguma que console. E daí o telefone toca e eu nem espero que seja ele – e não é – e a voz do outro lado me fala “quer que eu vá pra aí?” e eu, como criança perdida da mãe no supermercado, digo: “vem, vem logo, por favor”. E os encontro no corredor, anjos da guarda falando alto, rindo da minha aparência e dizendo de como a minha fragilidade e reclamos e sinceridades são bonitos e reais. De como eu não sou tão perdida e tão desgraçada assim. Me lembrando do que realmente importa. De como eu, toda ensangüentada e suja e inchada e borrada, ainda sou linda. E brilho e pulso. Me sinto brilhar e pulsar, como há semanas não sentia. E me sinto cheia. Me abraçam com todos os braços e energias do mundo. Só soma, sem sugar. Invadem meu quarto, e das suas vozes sai todo o barulho e beleza da vida e me contam histórias e programam viagens e lêem textos e riem da minha aparência: tão zumbi reclamando de coisas tão humanas. E são os humanos mais anjos que já conheci na vida. Vão adormecendo aos poucos na minha cama, no meu sofá, em mim. E não há nada de posse, mas apesar do caos todo, nesse momento, eu sei exatamente onde eu quero estar e quem eu posso contar e chamar de meu.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

detalhes

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são aqueles detalhes de saber que eu ando com os joelhos tortos, que eu tenho um cacuete com a boca, que eu prefiro toddy a, que meu sanduíche é com pão preto, queijo, requeijão e peito de peru. de saber que eu durmo com três travesseiros, que eu tou sempre atrasada, que eu não sei passar rímel e que demoro horas pra pintar as unhas. é conhecer minha paixão por roxo e coisas coloridas, saber que qualquer coisa eletrônica é rapidamente destruída quando está na minha mão, que eu sempre choro vendo garden state, extreme makeover ou grey’s anatomy. saber que eu adoro o pequeno príncipe, caio fernando abreu, clarice lispector, alberto caeiro. entender que eu fico uma criança manhosa quando tou com sono, que adoro cafuné num ponto específico da nuca, que eu danço sempre do mesmo jeito e que eu falo num tom de voz particular quando quero conseguir alguma coisa. saber que eu sou um desastre ambulante na cozinha, que eu sou a pessoa mais desastrada da face da terra, que eu canto o tempo todo quando tou feliz, que eu sou extremamente desafinada e não me importo nem um pouco. saber que eu vivo sempre cheia e roxos e arranhões, que eu adoro usar vestidos, que quero ser toda tatuada e que rio das coisas mais bobas muito alto e com todos os dentes. é saber que eu uso essas pulseiras pretas no pulso esquerdo há mais de 6 anos e que começa o ano com o pulso lotado e acaba zerado. é conhecer as minhas bizarrices de fazer bolinhas de sabão e baba e achar isso a coisa mais amada do mundo. é saber que quando eu pergunto “que horas tu nasceu?” é porque eu quero fazer o mapa astral. é saber que eu acredito em astrologia, feitiçaria, deuses, luzes, cores, energias, magias. é saber que eu adoro citações e as digo com frequência. é conhecer de cor as citações que eu mais gosto, é saber eu encho meus livros de post its, que eu adoro material e escolar e que tenho mais de dez cadeninhos largados pelo meu quarto, cheio de anotações. é ter certeza absoluta que eu tenho mais sorte do que juízo, que eu odeio cuba libre, que eu já tomei um porre de velho barreiro e que adoro coca-cola. é saber que meu drink favorito é gin tonica e que eu amo uma cerveja bem gelada. é saber que eu sou louca por temaki e sushi, que eu adoro pão de queijo, que eu teho uma pintinha no mindinho direito que eu adoro. é saber que se eu posso eu durmo 12 horas seguidas todo o dia, que a minha carteira tem mais papel e cartas que dinheiro, que eu sou a rainha do tekken 3 e que não jogo no war porque sempre me irrito. é saber que eu ainda tenho um caco de vidro no braço direito de um acidente de carro que eu sofri quando pequena, que eu adoro montanhas russas e que quero pular de pára-quedas. é saber que eu faço um milhão de listas pra me organizar durante e o ano e que acabo não cumprindo nenhuma. é saber que eu acredito no melhor das pessoas sempre, que eu quebrei meu pé quando tinha sete anos andando num gira-gira, que eu ainda me sinto culpada por quase ter quebrado o narz da minha irmã aos oito anos, dando uma estrelinha. é saber que eu adoro colagens, desenhos, pinturas. que eu quero fazer teatro, fotografia, dança, malabarismo, design e decoração. que eu prefiro calor ao frio, que eu adoro o verão e quase morro no inverno. que eu durmo com o mesmo bicho de pelúcia desde os meus sete anos e vou fazer isso pro resto da vida. é saber que, se eu pudesse, passaria o dia inteiro escrevendo. aqui.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

=)

Há pouco tempo escrevi que estava vivendo mais e escrevendo menos. Mas daí pensei se eu, que vivo através da escrita, não estou vivendo de outra forma e não sabendo como relatar. Ou estou com medo de admitir essa nova vivência. Porque o novo me assusta, sim. Eu sou muito medrosa, apesar de me apresentar como oi-eu-sou-a-mayah-e-mato-no-peito-tudo. Não sou coldheartbitch, apesar de muitas vezes bancar que sou. E me importo muito mais do que admito que me importo. Enfim, tenho vivido de uma maneira sem caos, sem desesperos e inseguranças, numa rotina tranquila e saudável. Ontem Manu me disse que fugindo da rotina, vivia numa. E que a rotina da fuga é tão monótona quanto a rotina da inércia. Que, ao meu ver, nem é tão inércia assim, já que a qualquer momento pode se dar a reviravolta. Assistindo um dos meus seriados que eu tanto gosto, apresenta-se uma situação que consigo fazer referência com esse tema: uma personagem volta, depois de muito tempo, para o visitar o lugar que trabalhou. E, aos olhos dela, tudo permanece o mesmo. Mas se tu vai adentrando nas vidas, tu percebe que tudo muda. Minúcias que, somadas, fazem a vida dar uma reviravolta. E isso acontece diariamente, não só na ficção, mas aqui, agora, na minha vida. O QUE EU TOU TENTANDO DIZER É QUE me acostumei com a rotina da inércia que não é inércia. E, através desse texto, descobri que não é tão diferente do que vim vivendo nos últimos dois anos. Vai ver que a falta da escrita é por achar boring falar de amor. Não sei falar de amor resolvido, tenho medo que pareça clichê aquela história de meu-deus-quero-ficar-contigo-para-todo-o-resto-da-minha-vida-não-sei-viver-sem-ti. Porque sei que o resto da vida é muito tempo e sei que consigo viver sem ele. Não tão alegre. Não tão feliz. Não tão calma, segura e tranquila. Mas sei viver. E penso que se eu escrever isso talvez pareça demenos perto do que eu sinto, então deixo ficar subentendido. Gosto da verbalização, gosto de olhar nos olhos que brilham depois de uma tarde intensa que prova que fazer nada com a pessoa certa é melhor do que mil-e-uma invenções para fazer tudo com a pessoa errada (algo que, diga-se de passagem, sou perita) e gosto de falar, quase um sussuro, por medo que as palavras se enrolem e fujam do ponto chave que é: eu gosto muito muito muito de ti. E que às vezes, se esquece totalmente a razão, às vezes realmente penso que não saberia viver sem ti e que quero passar o resto da minha vida, ali. Contar meus planos, mudar de casa, mandar fazer um quadro nosso. Mas ando muito fujona de tudo - não dele, porque consegui me segurar tempo suficiente para não abortar algo que estava nascendo - mas de falar qualquer coisa assim, aqui. De ter que me encarar no texto. Me encaro com ele, me encaro com minha família, me encaro até com a minha psicologa que volta e meia me dá umas alfinetas que meu deus, penso que não quero voltar naquela sala nunca mais. Mas me encarar na escrita, me encarar de frente a mim, eu x eu, essa ENCARADA é outra coisa. Por isso me prendo, me enrolo, culpo a vida corrida, uso qualquer desculpa que vier, arrumo o armário, desenrolo o fio do telefone, leio aquele livro que há meses está na minha cabeceira, mas não escrevo. Porque escrever, pra mim, é tocar na alma. É ouvir o que a alma tem pra dizer. E esse toque, nesse momento, tão desajeitado e estabanado pode fazer com que eu corra pro lado oposto. E não quero correr. Quero me manter aqui. Mantenho.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Pro outro lado da energia.

Não sei bem explicar porque cada encontro nosso rende um texto. Não sei se realmente sinto ou se me programei a sentir sempre que você está no mesmo recinto que eu. Ando calma e quase não penso mais em ti. Não te procuro mais por nenhum meio, nem te mantenho mais dentro de mim. Não gosto da inconstância que tu lida com as coisas, não gosto desses disparos de sentimentos que tu realiza aleatoriamente, com todos que passam por ti. Pra mim, esse tipo de atitudefaz com que o outro não seja especial. Quando todas as pessoas são especiais, ninguém é. E talvez sejamos todos iguais mesmo. Mas não há como dizer que não há aqueles favoritos, que mexem contigo e te preenchem. Uma conexão, de gênios, de santos. Uma sintonia. Que eu pensava que tínhamos, mas compreendi que não quando você insistiu em ignorar. E a todas essas não faz mais diferença, já me acostumei com a idéia de que tem algo dentro de ti que te impede, talvez medo, talvez nojinho, talvez algo que eu não deva realmente compreender. Agora já não quero mais, também. Passei por cima disso, tive meu período de angustia, de tristeza, de procura, de desespero, de amor, de ódio e de paz. Então, só peço pra que não me pegue de surpresa e interrompa o momento bonito que vivo com os meus amigos preferidos, peço que não envolva os braços envolta de mim sem surpresa, me abrace tão forte como se estivesse disposto a ouvir meu coração e depois ignore o ocorrido. Já disse: não sei jogar esse jogo. Comigo, ou se toca, ou não toca. Não há meio termo. Não há momentos de sim e de não. É sim ou não. Escolhe. Limbo não é comigo, nem pra mim. Não gosto de adivinhações, de ter que decifrar enigmas que nem você mesmo compreende. O que um simples abraços quer dizer?Não quero me questionar sobre isso, não quero ter que desvendar essa questão, não quero mais arrancar palavras de ti que não queres preferir nem se esforçar pra acalmar a minha mente e meu coração tão fugaz que não param um segundo sequer, numa espécie de loucura que você nem tenta compreender. Então, não venha disparar sentimentos em mim para o teu próprio bem. Poupe-me do teu egoísmo e respeite o meu espaço. Não tem nada mais pra você aqui. Pode haver, se um dia você estiver disposto de se soltar dessas amarras que tu criou pra te aprisionar, pra me aprisionar. Enquanto não fizer isso, permaneça distante. Me ofereça um oi, um sorriso. Um acordo com a cabeça. Mas não encoste. Não dispare sentimentos. Não force a barra, não insista, não confunda. Me deixa aqui, com os meus outros demônios. Eles já são suficientes pra ocupar a minha cabeça que já não mais pensa em ti.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Gosto.

Esse é do final de abril. Gosto bastante dele.

Gosto de quando os dias passam tão rápido que tu nem sente. Que tu tem um monte de coisas pra fazer e quase se enlouquece, se estressa, parece que as horas são muito curtas e no final tu não leu os textos, não mandou os e-mails, não fez os relatórios e o prazo de entrega de tudo tá ali e tu tá, realmente, doida. Sim, eu GOSTO disso. Porque no final do dia tu chega e sabe que tu fez tudo que podia. Coloca na balança e vê que tu deu tudo de ti praquilo. Gosto, porque no final do dia chega cinco notícias boas de uma vez só e tudo se resolve. Não só no meio profissional, nos estudos, mas na vida mesmo. Gosto de quando tu não aguenta mais, de quando tu tá quase explodindo, desistindo de tudo, vem um “olha, foi resolvido”; “olha, tamo aqui junto”; “olha, chegou teu presente”. Vem um agrado na cabeça, um chamego assim e tu deita e ainda falam “vai, descansa, relaxa, tu merece”. E se dorme tranquilo. Gosto de quando tu não acredita mais em nada, vem algo, vem alguém pra mostrar: Ó, tou aqui. Ó, sou do bem. Ó, QUE SEJA DOCE. Gosto de ver que não sou só eu que sou boba, sentimental, emocional, frágil e doce. Gosto de quem vem e se abre, se destapa do manto da vergonha e do orgulho e diz: eu também sou assim. E tou me mostrando assim pra ti porque confio. Me honro desse tipo de presente, dessa confiança em mim. E me faz pensar que talvez, talvez, eu não seja tão boba assim. Gosto de quando os dias passam rápidos assim, que tu não tem tempo nem cabeça pra se confundir. Que tu deixa as coisas acontecerem. DEIXAR ACONTECER, pra mim, é algo bem difícil. Quero o tudo ou o nada. Não quero o ponto de interrogação. Mas gosto, GOSTO de quando consigo ficar sem pensar um pouco. Me foco em outras coisas. Me foco em mim, só em mim. O que eu sinto com e por mim mesma. E, sem parecer egoísta, é o que importa. Continuarei sendo doce, sempre. Continuarei rindo, abraçando, falando bobagens, jogando amor pra tudo quanto é lado, afinal, não sei não ser desse jeito. Mas tenho gostado de fazer isso sem ter nem tempo de pensar nas conseqüências.

Isso é pra dizer BOM DIA.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Uma carta para o alto mar

(Ou para outro continente. Ou para qualquer lugar do globo que estiveres. Sei que vais sentir).

Tenho pensado muito em você. Não que eu já não pensasse antes, você sabe que sim, mas agora tenho pensado de maneira diferente. Sem nada a prender. Porque você também sente a ligação que existe entre a gente, só que quando começou, começou, eu não diria errado, mas torto. Como tudo que eu faço, torto. E eu tinha o outro ocupando um espaço muito maior do que eu deveria permitir dentro de mim. Mas não quero falar dele. Não porque guardo mágoas, não, não guardo, mas porque já passou. Mas seria difícil falar do motivo que agora que tu tens me ocupado mais a mente do que há dois anos. Não penso que tenhamos perdido tempo, não. Creio que amadurecemos nosso relacionamento muito e soubemos lidar com a distância e com o que nos mantinha afastados muito bem. Penso assim porque sempre que você me vem a mente, sou invadida por um amor muito sincero. Um amor que não é só de amizade, e não é só de amantes, é um amor-inteiro. E uma saudade que me aperta o peito. Penso onde deves estar agora, talvez em meio do oceano, viajando, buscando seus sonhos, aprendendo, vivendo outras coisas, outras vidas. Mas quando encontro palavras tuas que vem através dessas ondas e vejo que mesmo do outro lado do mundo ainda não me esqueceu, ainda me quer, ainda me procura e ainda me ama, fico pensando se não seria isso o que realmente procuramos nossa vida toda. Essa diferença, esse amor leve, tranquilo, mas também passional. Me pergunto se antes não havia me limitado ao sentimento, por não conseguir lidar com dois sentimentos tão fortes, tendo que canalizar para um só. Não que não tenha despejado em ti sentimentos nesses últimos dois anos, muito pelo contrário, você sabe do carinho absurdo que sempre existiu dentro de mim. Mas a paixão, embora existente, era limitada. E agora não há mais o fator que a abafe. Agora, com a proximidade da tua chegada, o coração vai batendo mais forte. E não consigo não imaginar nós dois novamente deitados na cama, acordando tarde e vendo desenhos matinais juntos, rindo das maiores bobagens, ouvindo nossas músicas e trocando bandas que gostamos, conhecemos. O teu ska dançante, o meu hardcore que adoras e o meu emo que odeias. A tua família me tratando como se eu já fizesse parte, sentindo-me em casa longe de casa. Quero tu aqui pra conhecer meu mundo e meus lugares, minhas pessoas. Quero tu aqui pra segurar minha mão e me olhares com aqueles olhos da cor dos meus enquanto faço uma tatuagem, como aconteceu contigo, como tudo começou entre nós. Quero te ter nos meus planos, quero tua alegria e tranquilidade próximas a mim, quero estar contigo. Quero tua doçura e tua sinceridade aqui comigo, não só no coração, mas junto a mim e ao meu calor. Quero essa confiança que me passas pra sempre. E não tenho dúvidas que queres isso também. Guarda essa carta e leia sempre que quiseres me ter mais perto de ti. Sei que a distância vai continuar sendo um empecilho, mas tu sabe, né: a distância é only physical, meu bem.

Essa é a minha forma torta de dizer, mais uma vez, que te amo. Que penso em ti. Que te quero perto e que te guardo em mim.

Um beijo, mil beijos.

Mayah

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sempre guardo as cartas que não enviei por falta de coragem, tempo, circunstância. Mantenho em caixas as lembranças, rasbiscos, tickets, guardanapos, chaves de quartos, fotos, recortes, desenhos, flyers e pinturas. Todos esses objetos já tão sem uso que não fazem nada além de funcionarem como uma máquina do tempo, me levando pra lugares há muito tempo já esquecidos. Meus sentimentos engavetados em potinhos de papelão que me arrisco a sentir sempre que abro aquela porta do armário.
Guardo o que passou e me deparo com eles agora sem saber o que fazer. Nesse caderno que escrevo agora, inúmeras cartas foram iniciadas, num ritual para dizer o que penso, quero, procuro, espero da forma mais leve possível. Tenho cada vez mais achado que transmitir sentimentos de qualquer maneira nunca é recebido de forma leve. Sempre tem um frio na barriga, um medo de qual vai ser a próxima palavra, a próxima frase. Uma expectativa que pode não ser cumprida, um escrito que não estava sendo esperado e te derruba da corda bamba. Embora a leveza não seja parte para quem está recebendo, sei que para mim, que escrevi e ainda escrevo, vai-se junto tudo que podia estar engasgado. Vai ver que não entreguei minhas letters por isso: não queria enviar o peso pra ninguém. Não queria manter todas os meus desejos dentro de mim. Repasso para o papel, transformo o abstrato em real. Numa tentativa de transformar o invisível e capaz de ser observado através nessa folha pequena escrita com essa caneta azul tão clara e cheia de vida. Como se a tinta me incentivasse a viver mais intensamente ainda. Sempre com tanto sentimento brotando pelas entrelinhas. Como se uma parte de mim fosse dada, entregada, oferecida, presenteada para as mais diversas pessoas que passaram pela minha vida e apertaram no meu acelerador interno de escrita. Máxima velocidade. Como se tentasse agarrar e trazer para dentro de mim o corpo, a alma, o coração do outro. Vai ver que é por isso que não fica leve: é muito forte e profundo essa conexão que peço. É uma espécie de apelo que realizo, para que o outro sinta o que pulsa, vibra, vive dentro de mim. Tento realizar o impossível. Mas sempre digo e repito que o impossível é só questão de opinião. Não imponho limites. Não aprendi a fazer isso, não tenho fronteiras. Não quero escudos, não busco defesas. Procuro uma junção, um mix, uma troca e compartilhamento do mais bonito que existe dentro de dois seres vivos. Escondida atrás de toda tentativa de leveza no mais infinito, há uma intimidade imensurável. Não é para qualquer um. É apenas para os sensíveis. Para os que conseguem perceber. Para os que estão dispostos. Para os que são além. Venha. Para todos vocês que um dia acreditei que pudessem se permitir. Não tento, muito menos desisto, apenas aguardo. Quando estiverem preparados, me procurem. Estarei aqui de peito aberto, como sempre. Enquanto aguardo, continuo escrevendo.

uma carta pra oito quadras de distância

cheguei numa bad sem tamanho em casa, queria me enclausurar nesse quarto, apagar a luz e nunca mais sair. como se tudo na minha vida tivesse predestinado a ser torto, a ir pro lado errado e eu insistindo, insistindo, insistindo. dando a cara a tapa sempre, porque desistir não combina comigo. mas quer saber? eu desisto sim. cansei.. tou cansada de tentar de seguir o caminho certo e só caminhar pra trás. tou cansada de acreditar no que não existe. fico exausta de forçar beleza onde não tem e me dói dói doi.

na verdade, eu só vim aqui te escrever porque eu queria que tu soubesse que, quando eu não quero ver mais ninguém, quando eu não acredito em mais ninguém, quando eu não sei nem mais quem eu sou, o que eu quero, o que tou fazendo, quando eu sinto que tou afundando, eu penso em ti e lembro que eu tenho pra quem fugir. pensar em ti e me faz ficar melhor. só saber que te tenho me faz ficar melhor.

obrigada por tá aqui, tu não tem noção de como essa menina aqui que banca que pode aguentar tudo é frágil e precisa de ti. te amo, viu. muito. é por pessoas como tu que eu ainda penso em continuar.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ando escrevendo bastante, mas não aqui.

www.coracaodetinta.tumblr.com

Meu novo vício.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O que eu quero nem sempre é o que eu quero

Um dos meus grandes problemas é não ter paciênca. Pra tudo. Sou muito ansiosa, não aguento ter que ficar esperando as coisas acontecerem, parada. Não tenho, também, paciência pra deixar as coisas amadurecerem. Daí tento dar um passo maior que a perna, aquilo de realizar o conto de fadas em uma semana. Acontece que não existem contos de fadas. E, mesmo que existissem, eles não iriam durar uma semana. Ou talvez durassem, pra depois irem se desrenolando e mostrando que, enfim, é tudo vida real. Com alto e baixo, discussões, declarações, risadas, choros e separações Desencontros, enfim. De idéias, de atitudes, de amores, de missões. Como disse, não tenho paciência pra nada. Quando o desenrolar não se dá como prometido - a gente sempre promete (e realmente espera) o melhor, maior mais intenso amores de todos os tempos - e começam a acontecer o que eu costumo chamar de essas coisinhas, e perco (novamente) a paciência. Sinceramente, não tenho mais saco pra novelas mexicana e amores mal resolvidos. Passei da idade, talvez, já vivi isso demais. E não é que eu não aprecie a ntensidade, nada disso, é a coisa que eu mais amo na vida. Mas eu realmente não suporto essa história de mal-me-quer e dramalhão. Desligo o celular, finjo que escuto e penso em coisas boas, ouço minhas músicas, saio pra dançar, pra comer sushi, pra olhar as estrelas, telefono pra alguns amigos e pronto: volto a ser eu. Eu tenho essa necessidade muito grande, sabe. De ser eu. É até meio egoísta. Já ouvi que eu "não sei me relacionar". Talvez não saiba mesmo. Mas afinal, quem sabe? Quem é que dita as regras de qualquer relacionamento? Não existem regras. E eu crio as minhas maneiras de viver algo saudável pra mim, pro próximo, pra qualquer pessoa que venha a se envolver comigo, de qualquer jeito que for. Respeito as diferenças, os modos de viver a vida, mas, por favor, respeite o meu jeito, a minha maneira. Faço concessões se achar necessário, mas tem coisas em mim que são imutáveis. Pode até ser infantil, às vezes eu acho que é mesmo, mas sou eu. E é, eu gosto de mim. Muito. Do meu jeito, do que acredito, do que tenho de valores e como vivo a minha vida: gosto - e não pretendo mudar. E não é ranço, nem raiva, nem ódio, nem vingança, é só verdade. E mas do que gostar de ser eu, eu PRECISO ser eu - e só eu - de vez em quando. Longe de tudo e de todos, com meus precious few que me conhecem mais do que eu mesma.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

É engraçado. Só consigo escrever quando há impasses, caos, bagunças emocionais. Quando existe conflitos. Otherwise, não sai nada daqui. E escrever só por escrever nunca me agradou muito. Tem que vir de dentro e sem ter como conter, sem racionalizar, como um vulcão em erupção. Em vez de larvas, sentimentos transformados em palavras. Aliviando a pressão que existe internamente.

Pros que não sabem, eu tou em função de mudança. Falando assim, parece meio metamorfose. Pensando bem, até seja. Mas a mudança que me referi primeiramente foi a de móveis, mesmo. Mudando de casa, de apartamento, de lar. Nessa, encontrei vários diários. Relembrei que escrevo há muito tempo. Desde os onze anos. Cadernos CHEIOS de escritos, dizeres, contando histórias, fatos, bobagens. Criando, relatando, relembrando. É claro, tem muita coisa ingênua e engraçada narrada ali, mas desde sempre necessitei disso: da palavra pra conseguir me expressar. Da palavra pra me fazer sentir. Da palavra pra me entender. É uma paixão absurda, e extremamente necessária.


Ao mesmo tempo que me mudo de apartamento - para os que não sabem, de novo, estou sem teto, em busca e um novo lar, morando na minha irmã, nos meus amigos, no meu namorado - há modificações internas e intensas acontecendo em mim. Uma Mayah que há muito tempo não existia voltou a tona. Retornei a acreditar no que não achava mais possível e retomei valores e concepções que há muito já havai esquecido. Ganhei algemas e não tenho achado isso ruim. Quem convive comigo deve até achar isso estranho. Eu sempre valorizei muito a liberdade, a vontade de fazer o que bem entender, sem dar justificativas a ninguém. Mandava um "CUIDE DE SUA VIDA" em caps lock e tocava o terror na minha. Não que não toque mais o terror (muito pelo contrário), mas sinto que algo aqui dentro deu uma acalmada. Veio uma espécie de segurança junto. Uma vontade de, talvez, querer dar explicações a alguém. Um desejo absurdo de compartihar, de criar, de construir junto. De fazer planos, de rir de bobagens, de saber que não estou tão só por aqui. E, querendo ou não, é ser uma pessoa um pouco melhor. É permitir outra visão fazer parte de ti. É compartilhar e se construir e reconstruir. Duas cabeças juntas pensam melhor que só uma. Dois corações juntos criam o que quiserem, inclusive o impossível.

Tudo isso pra dizer que as coisas andam bem. Apontando pro caminho certo. Tenho andado esperançosa. E quando não fui, né? Mas é ainda melhor quando os fatos da nossa vida nos dão motivos pra ter esperanças.

Texto porco. Mas como disse, as coisas tem andado bem. Sem conflitos. Daí não vem como desabafo. Não vem atropelando. Vem leve, tranquilo. Mas sempre com muito amor :)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

oi, 2010.

Eu deveria escrever algo sobre o ano novo, eu sei. Sobre a virada, sobre a esperança, sobre todas essas coisas que um ano novo - e redondo, como este - trazem. Não sei se consigo. Mas vou tentar. Não tenho nada conta a algo que soe a: uma tentativa. Tento.

Eu já escrevi isso antes, mas não canso de dizer: me maravilha como o final de ano sempre traz umas supresas pra entrarem no nosso coração e nos fazerem acreditar em tudo de novo. Nessas coisas bonitas e limpinhas que pulsam dentro de mim. É inventar fé, é trazer o bom, é rir com a possibilidade de talvez sim. Ou talvez não, mas pelo menos existe algo que nos faça acreditar que vai tudo pra frente. Mas, enfim, pra onde mais iríamos, se não fosse pra frente?

Todos os anos fazemos listas, metas, um milhão de coisas. Todas apontando para o mesmo lugar: para frente. Sem saber o que estará lá, nem pra onde se dirige exatamente. Mentira, algumas pessoas sabem bem onde querem chegar. Acho bárbaro essa objetividade toda. É muito mais fácil dar um gás nas tuas ações quando se sabe o objetivo concreto, único. Eu? Eu não sei de nada. Tem dias que nem sei do que gosto. Mudo constantemente. Fica difícil traçar um ponto final e correr atrás dele. Vou me deixando levar, pegando atalhos, construindo, aos poucos, um fim. Que, quem sabe?, possa vir a ser um começo. Pra mim, só importa isso: que seja doce. E, talvez, o final nem seja o que me interesse. Mas o caminho em si, as pessoas, momentos, vivências, cores, sombras que irei viver até chegar no - onde mesmo? Nem sei.

Pois então, esse ano não fiz lista nenhuma. É claro, sempre tem alguma coisa que a gente quer fazer. No meu caso, começar algum exercício físico (não só pela estética, mas pelo bem que faz pra cabeça), fazer um curso de teatro, de design, de fotografia, viajar, viajar, viajar. Essas coisas todas que eu não quero só pra esse ano, mas pra minha vida. E que vou obter no meu tempo, o tempo certo. Que pode ser um ano, sim. Mas pode ser uma semana, um mês, dez anos, vinte, trinta. É isso: se eu fosse fazer uma lista rígida assim, não seria pra esse ano. Seria pra minha vida. Mas isso ocupa muito tempo e - mais ainda - paciência. Tempo eu tenho de sobra. Agora o outro atributo...

Ecrevendo sobre isso, lembrei: ano novo passei com a minha família. Que às vezes é torta e tensa, sim, mas é linda, linda, linda. Cheia de energia e coisas boas. Geralmente dá choradeira no final do ano: todo mundo muito emotivo. Nesse, não. Foi só risadas, danças, gritos, pulos. Uma verdadeira festa. Meu irmão - que é quase tão agitado quanto eu - comprou luz negra, marca-textos e fizemos uma comemoração estilo decadance: escrevendo SÓ coisas boas pelo corpo. E, em neon, toda aquela positividade brilhava e iluminava os nossos desejos de 2010. E foi uma coisidiloco: amor, paz, saúde, sexo (dos bons!) - e juro que tava escrito bem assim-, felicidade, prosperidade, sorte, (falta de) juízo, realização profissional, paixão, encontros, que seja doce (x 7), risadas, festas, positividade e CALMA. Pra mim esse último é essencial: calma, calma, calma. Meu anjo-da-guarda, o Diego, me desejou o mesmo: "Vou pedir pra todos os santos darem calma pro seu coração, porque você é muito afobada". E, sim, se for fazer uma lista de 2010 vou pedir isso: CALMA, CORAÇÃO. Mas voltando a virada: foi lindo, tinha que ver. Todo mundo se riscava e se abraçava abraçava e pulava e gritava e FELIZ 2010. Maravilhoso. Se a entrada de 2009 foi conturbada, chorosa, doída, a entrada de 2010 foi exatamente o contrário: retratando como vai ser esse ano que está por vir.

Eu sou otimista, cês sabem. Acredito muito no bem e nas coisas boas, na justiça-cósmica e na coerência sobre todas as coisas. Por mais desacreditada que o último mês de 2009 me fez ficar, no fim, eu sempre acredito. E essa coisa boa não vem só de mim, não. Vem dessas almas vivas que me rodeiam. Luaninha disse que é tipo o barco. Não paramos de remar e não deixamos que ninguém que queremos bem e amamos tanto pare também. Disseram que a gente deve ser apaixonada uma pela outra. E realmente, somos. Uma paixão que não tem limites, essa paixão de amizade que só poucos conhecem e compartilham. É aquilo de sentir o coração bater mais forte no peito, de sorrir quando ouve o telefone tocar, de se aquecer ao ouvir um "tou contigo e não abro nunca". São as almas se encostando, dançando, rindo. É sintonia, é energia, energia, energia. Das mais intensas e mais fortes energias. É uma espécie de Deus, ou melhor, é essa força maior que rege o universo se expressando através da gente. E me diz, tem como não ficar feliz quando se SENTE tudo isso pulsando dentro de ti, dentro de nós?

2010 vai ser lindo. Tenho certeza. Um bom ano pra todos mundo. E repitam sete vezes comigo: QUE SEJA DOCE. Pra dar SORTE.