quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De todas as letras, a última. De todas as cores, retalhos.

"Vim pra casa humilde. Depois um amigo me chamou pra ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar da dele faria como que eu esquecesse de mim. E fez. Quando gemeu 'dói tanto', contei da moça vadia sozinha chorando, bebendo e fumando (como num bolero). E quando ele perguntou: "por quê?, compreendi mais ainda. Falei: 'Porque é daí que nascem as canções'. E senti um amor imenso. Por tudo, sem medir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?"
Caio F. Abreu

A tristeza, na verdade, não veio do não-ter. Veio da descrença, do medo da amargura, da desilução daquela possibilidade que falei ontem. Chorei muito por dizer que já não acreditava mais em nada, que eu tinha cansado, que eu não queria mais saber, que eu ia mesmo fugir, pegar o primeiro ônibus e avião e sumir. E mandar todo mundo se foder nessas tentativas inábeis, frágeis e covardes. Que todas essas crenças e descrenças tavam quebrando comigo e eu já nem sabia mais quem eu era. "Mas quem é que não queria se encontrar?". Me irritei, me entristeci, gritei, disse "não encosta em mim!", como se não me tocando nos braços pudesse fazer com que não tocasse meu coração, também. Como se dissesse "sai daqui, eu fui burra, estúpida, idiota de ter te deixado entrar, sai daqui sai daqui sai daqui!". Bem infantil, bem boba, bem natural e bem humana. Porque, enfim, todo mundo tem direito. E o meu direito era esse: não aceitar, gritar, chorar. E, se tivesse algo pra quebrar, quebrava tudo. Feito como fiquei por dentro. Mas mas mas daí me veio umas vozes doces me dizer que não, que eu não posso desistir, que eu não vou, que faz parte de mim ser risonha, alegre, esperançosa, doce doce doce, que são pessoas como eu que movem o mundo e fazem ele ser melhr. Eu deitei no ombro-amigo dos meus amigos que conheço desde antes da Revolução Francesa e chorei chorei chorei. Dai eu dancei. Dancei leve, deixei-me levar. Porque sabe, aquele momento é único e não era o momento de chorar. Aquele era o momento de dançar, leve. E sorrir, meio boba, de enfim, me fazerem acreditar de novo. Tá sempre aí, sabe. É isso que é amor. É ISSO. E a gente ainda se engana achando que tem que procurar em outro lugar. Voltei pra casa com o dia amanhecendo. E sempre rola uma esperança de ver o sol nascendo, vai dizer?

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