quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sempre guardo as cartas que não enviei por falta de coragem, tempo, circunstância. Mantenho em caixas as lembranças, rasbiscos, tickets, guardanapos, chaves de quartos, fotos, recortes, desenhos, flyers e pinturas. Todos esses objetos já tão sem uso que não fazem nada além de funcionarem como uma máquina do tempo, me levando pra lugares há muito tempo já esquecidos. Meus sentimentos engavetados em potinhos de papelão que me arrisco a sentir sempre que abro aquela porta do armário.
Guardo o que passou e me deparo com eles agora sem saber o que fazer. Nesse caderno que escrevo agora, inúmeras cartas foram iniciadas, num ritual para dizer o que penso, quero, procuro, espero da forma mais leve possível. Tenho cada vez mais achado que transmitir sentimentos de qualquer maneira nunca é recebido de forma leve. Sempre tem um frio na barriga, um medo de qual vai ser a próxima palavra, a próxima frase. Uma expectativa que pode não ser cumprida, um escrito que não estava sendo esperado e te derruba da corda bamba. Embora a leveza não seja parte para quem está recebendo, sei que para mim, que escrevi e ainda escrevo, vai-se junto tudo que podia estar engasgado. Vai ver que não entreguei minhas letters por isso: não queria enviar o peso pra ninguém. Não queria manter todas os meus desejos dentro de mim. Repasso para o papel, transformo o abstrato em real. Numa tentativa de transformar o invisível e capaz de ser observado através nessa folha pequena escrita com essa caneta azul tão clara e cheia de vida. Como se a tinta me incentivasse a viver mais intensamente ainda. Sempre com tanto sentimento brotando pelas entrelinhas. Como se uma parte de mim fosse dada, entregada, oferecida, presenteada para as mais diversas pessoas que passaram pela minha vida e apertaram no meu acelerador interno de escrita. Máxima velocidade. Como se tentasse agarrar e trazer para dentro de mim o corpo, a alma, o coração do outro. Vai ver que é por isso que não fica leve: é muito forte e profundo essa conexão que peço. É uma espécie de apelo que realizo, para que o outro sinta o que pulsa, vibra, vive dentro de mim. Tento realizar o impossível. Mas sempre digo e repito que o impossível é só questão de opinião. Não imponho limites. Não aprendi a fazer isso, não tenho fronteiras. Não quero escudos, não busco defesas. Procuro uma junção, um mix, uma troca e compartilhamento do mais bonito que existe dentro de dois seres vivos. Escondida atrás de toda tentativa de leveza no mais infinito, há uma intimidade imensurável. Não é para qualquer um. É apenas para os sensíveis. Para os que conseguem perceber. Para os que estão dispostos. Para os que são além. Venha. Para todos vocês que um dia acreditei que pudessem se permitir. Não tento, muito menos desisto, apenas aguardo. Quando estiverem preparados, me procurem. Estarei aqui de peito aberto, como sempre. Enquanto aguardo, continuo escrevendo.

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