terça-feira, 12 de abril de 2011

encantos e umbigos

foi um daquele dias de acordar abstrada. o diego iria rir, como riu quando leu essa frase, de helena acordando abstrada, no livro da jane tutikian. e acordei abstrata e, como helena diz, é sempre mau sinal.

despertador tocou e eu fiz a rotina de todos os dias: o desliguei. e antes mesmo de abrir os olhos soube que seria um dia sem nada de especial. não que coisas diferentes não acontecessem - afinal, não é todo dia que se aprende (dá pra falar que aprendi?), enfim, que se é ensinada a arrancar na lomba. mas seria um dia incompleto, sem brilho e encantos. e se alguém me dissesse isso, eu diria que o encanto está em todas as partes, que tem que saber olhar e que um dia sem encanto serve para que os dias com encanto acontecerem. mas pra mim, hoje, não. nada desses (auto) consolos. e sem aqueles desesperos infantis. foi um dia sem encanto, ponto. depois de um certo tempo, a gente se acostuma a aceitar as coisas não tão felizes assim com um simples: ponto. logo vem outro dia e quem sabe se resolve. e, se não resolver, outra coisa vai acontecer. e ponto.

repassando na minha mente, penso que não soube nada. que só imaginava que seriam 24h um tanto vazias e tortas. mas o meu lado otimista resolveu deixar os reclames de lado e encarar o trânsito, os telefonemas, os sotaques, o sapato vermelho e, inclusive, as lombas. e o meu lado desequilibrado pelos hormonios da tpm - nem sei se acredito muito nisso, mas me consola pensar que há algo físico fora do trilho do que psicológico (afinal, minhas idas duas vezes por semana na terapia me ensinaram a ser desequilibrada apenas dentro de uma sala branca, com duas cadeiras listradas coloridas, onde somente eu e ela possamos perceber) - e, como eu ia dizendo, esse fora de foco do dia de hoje resolveu olhar para o meu próprio umbigo e.

descobri que não penso mais só no meu próprio umbigo. que é o meu umbigo e o umbigo dele. perigoso, os cautelosos me diriam. que lindo, os românticos sussurrariam. e agora? digo eu. não soube nunca cuidar direito do meu próprio umbigo, como vou cuidar de mais um? como colocar na balança, entender, perceber outro umbigo e não só umbigo, mas barriga, peito, pescoço, ombos, mãos, pernas, joelhos, pés, rosto e coração, meu deus, cuidar de outro coração. e pesar e olhar e medir e avançar e retornar e segurar e se impor e contornar, meu deus, como ser uma pessoa sendo duas? e daí vem a crise. não a crise de ó-credo-o-que-estou-fazendo-aqui-quero-pegar-o-próximo-avião-e-partir, mas a crise de pronto-agora-tu-é-uma-mulher; pronto-agora-tu-conhece-o-amor; pronto-agora-tu-tem-outra-vida. e é a outra vida que transforma os dias vazios em encantados e quando essa outra vida não está por perto e meu dia tá cinza, vem a crise.

e no meio da crise eu leio sem querer um texto de uma amiga que não é desse mundo, é de outro, é de vênus, que gira pro lado contrário de todos os outros planetas, que é de lá, do mesmo lugar que eu e ela diz que não há nada mais triste e lindo que uma mulher triste. e fala da inocencia e inexperiencia que se perde com a experiencia. e das tristezas que já não são mais caos e sim tristeza. e é isso. é acordar abstrata, de pé virada, triste. e ser assim. e passar o dia comum, sem encantos. e saber que, apesar do não planejado (aprende, nem tudo sai como planejado), se tem um lar num piscar de olhos e que daqui a pouco se vai ouvir o tilintar das chaves e o encanto vai abrir a porta contando do seu dia. ele e o seu umbigo.

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